Os procuradores que conduziram a Operação Lava-Jato receberam com desconfiança os testemunhos iniciais do ex-presidente da construtora OAS, Leo Pinheiro, que acabou por ter um contributo decisivo para incriminar o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva no caso do apartamento em Guarujá, São Paulo, que levou Lula a ser condenado a oito anos de prisão.
Segundo as trocas de mensagens entre procuradores da Lava-Jato que têm vindo a ser divulgadas pelo site The Intercept Brasil, e agora noticiadas pela Folha de São Paulo, o antigo presidente da construtora OAS só passou a ser considerado credível depois de ter feito vários depoimentos e corrigido as suas versões dos acontecimentos.
Mensagens de 2016 trocadas na aplicação Telegram e obtidas pelo The Intercept, indicam que já naquela altura os procuradores do Ministério Público brasileiro não atribuíam grande crédito às informações denunciadas por Léo Pinheiro. Só em abril de 2017, ao depor perante o juiz Sérgio Moro, é que Leo Pinheiro apresentou a versão que incriminou Lula no caso do apartamento de Guarujá, indicando que o pagamento das obras na casa de Lula fazia parte de um compromisso entre a OAS e o Partido dos Trabalhadores para garantir contratos entre a OAS e a petrolífera Petrobras.
"A primeira notícia da versão de LP [Leo Pinheiro] sobre o sítio já é bem contrária ao que apurámos aqui", diz num chat (grupos de conversa) no Telegram o procurador Paulo Roberto Galvão, em março de 2016. "Estamos abertos a ouvir a proposta da empresa mas não nos comprometemos com nada", acrescentou.
Outro procurador, Januário Paludo, desabafava, segundo a transcrição feita pelo The Intercept e pela Folha de São Paulo: "Tem que prender Leo Pinheiro. Eles falam pouco. Me parece que não está valendo a pena".
Nas últimas semanas o The Intercept Brasil tem divulgado o teor das conversas entre procuradores da Lava-Jato e outras conversas envolvendo o ex-juiz (e agora ministro da Justiça) Sérgio Moro.
Na investigação do The Intercept um dos casos mais polémicos foi a relação de Moro com o procurador Deltan Dallagnol, apontando para a falta de imparcialidade do então juiz no acompanhamento da Lava-Jato.
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