A senadora californiana Kamala Harris confrontou esta quinta-feira o ex-vice-presidente Joe Biden no segundo debate para apurar o candidato democrata às eleições de 2020 nos EUA. “Não acredito que seja um racista e concordo quando fala da importância de encontrar um terreno comum. Mas isto é pessoal e foi doloroso ouvi-lo falar sobre dois senadores americanos que construíram a sua reputação e carreira com base na segregação racial neste país”, disse, citada pela agência de notícias Reuters. Harris é filha de pai negro e mãe indiana.
Biden, que tem estado sob fogo depois de ter dito que há décadas trabalhou com segregacionistas para fazer as coisas avançar no Senado, defendeu-se: “É uma descaracterização da minha posição em toda a linha: eu não elogiei racistas. Isso não é verdade. Se quisermos ter esta campanha dominada pela discussão sobre quem apoia os direitos civis e se eu o fiz ou não, tenho todo o gosto. Continuo a pensar que temos de fazer mudanças fundamentais e que esses direitos civis, a propósito, incluem não apenas os afroamericanos mas também a comunidade LGBT.”
Biden desafiado a “passar testemunho” a nova geração
O mayor de South Bend, Pete Buttigeig, também esteve sob escrutínio a propósito dos disparos fatais da polícia da sua cidade sobre um negro no início do mês. Buttigeig reconheceu que falta diversidade à força policial daquele município no estado do Indiana.
Um dos candidatos menos conhecidos, o deputado Eric Swalwell, de 38 anos, apontou a mira a Biden, instando o veterano de 76 anos a passar o testemunho aos candidatos mais jovens. “Eu tinha seis anos quando um candidato presidencial foi à convenção democrata da Califórnia e disse que estava na hora de passar o testemunho a uma nova geração de americanos. Esse candidato era o então senador Joe Biden. Ele estava certo quando disse isso há 32 anos, ainda está certo hoje”, atirou. Biden respondeu: “Ainda estou a segurar esse testemunho. Quero deixar isso claro.”
Trump responsabilizado por “enorme desigualdade de rendimentos”
O ex-vice-presidente e o senador Bernie Sanders, o segundo candidato mais bem colocado nas sondagens, dirigiram os seus ataques ao atual Presidente, Donald Trump, que já oficializou a sua recandidatura para as eleições de novembro do próximo ano. “O povo americano percebe que Trump é falso, que Trump é um mentiroso patológico e um racista e que mentiu ao povo americano durante a sua campanha [para as eleições de 2016]”, atacou o senador do Vermont.
Biden, que se candidata à Casa Branca pela terceira vez, sublinhou que os cortes nos impostos para os ricos e outras políticas económicas de Trump estão a aumentar a desigualdade económica nos Estados Unidos. “Donald Trump colocou-nos numa situação horrível. Temos uma enorme desigualdade em termos de rendimentos”, referiu.
Só Sanders e Harris apoiam plano de saúde sem seguros privados
Quando questionados sobre quem apoiaria um plano de saúde que eliminasse os seguros privados, dos dez candidatos apenas Sanders e Harris levantaram as mãos. “As pessoas que forem abrangidas pelo plano ‘Medicare para todos’ não terão bonificações, dedutíveis nem despesas do seu próprio bolso. Sim, pagarão mais em impostos mas menos em cuidados de saúde”, sublinhou o senador do Vermont.
O debate desta quinta-feira também incluiu os senadores Michael Bennet e Kirsten Gillibrand, o antigo governador do Colorado John Hickenlooper, a guru de autoajuda Marianne Williamson e o empreendedor Andrew Yang. Estes cinco têm intenções de voto de cerca de 1% ou menos.
O que se segue?
Até ao arranque das primárias democratas em fevereiro, está prevista mais uma dezena de debates. A próxima etapa, também dividida em duas noites, acontece no final de julho em Detroit, no Michigan.
Do lado republicano, só o antigo governador do Massachusetts Bill Weld se apresentou para disputar a nomeação com Trump, mas tudo indica que não terá quaisquer hipóteses num partido rendido ao atual Presidente.
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