O Ministério da Defesa do Mali confirmou esta segunda-feira à estação France 24 que um novo massacre no país, levado a cabo numa aldeia do grupo étnico Dogon, no município de Sangha, provocou pelo menos 95 mortos e 19 desaparecidos.
O presidente da Câmara de Sangha, Ali Dolo, que corrobora o balanço, alerta que o número de vítimas ainda poderá aumentar. Os atacantes incendiaram a aldeia e dispararam sobre todos aqueles que tentaram sair de suas casas, informou o autarca. “A aldeia está em grande parte destruída”, acrescentou.
“Segundo os civis, foram homens armados que vieram disparar, saquear e incendiar. É uma aldeia de 300 habitantes. É verdadeiramente uma desolação”, revelou um funcionário municipal, sob anonimato.
Massacre de Ogossagou, outro episódio sangrento
O norte do Mali tem sido assolado, desde março de 2012, pela presença de grupos jiadistas, em grande parte dispersos numa intervenção militar, lançada em janeiro do ano seguinte, por iniciativa das autoridades francesas, que ainda decorre. No entanto, zonas inteiras escapam ao controlo das forças do Mali, de França e das Nações Unidas, apesar da assinatura de um acordo de paz, em 2015, destinado a isolar definitivamente os terroristas islâmicos.
Desde então, a violência alastrou-se do norte para o centro do país, atingindo por vezes o sul. O centro é, contudo, a zona mais afetada, acumulando frequentemente conflitos entre comunidades. A 23 de março, o massacre de Ogossagou, perto da fronteira com o Burkina Faso, matou cerca de 160 Fulas às mãos de alegados membros dos Dogon.
Confronto étnico entre caçadores e pastores
Os caçadores Dogon e os pastores seminómadas Fulas entram frequentemente em confronto por causa do acesso a terras e a água. Os caçadores também acusam os Fulas de ligações a grupos jiadistas, enquanto os pastores afirmam que o Exército do Mali armou os Dogon para estes os atacarem.
A Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização do Mali (MINUSMA, no acrónimo em francês) documentou, desde janeiro do ano passado, 91 violações dos direitos humanos cometidas por caçadores tradicionais contra membros civis da população Fula nas regiões de Mopti e Segu. Destes atropelos resultaram pelo menos 488 mortos e 110 feridos, segundo revelou a missão da ONU.
A MINUSMA foi estabelecida em 2013 para combater as milícias islâmicas que operam no país, sendo alvo de ataques regulares dos terroristas. A proliferação de grupos armados, que combatem as forças governamentais e os seus aliados no centro e norte do Mali, tornam aquela missão a mais perigosa para os capacetes azuis da ONU, revelou já a organização.
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