Áustria tem a primeira mulher chanceler até às eleições antecipadas
Brigitte Bierlein é juíza e foi descrita pelo Presidente Alexander Van der Bellen como uma figura “altamente competente”
Brigitte Bierlein é juíza e foi descrita pelo Presidente Alexander Van der Bellen como uma figura “altamente competente”
Jornalista de Internacional
Brigitte Bierlein é a juíza que liderou o Tribunal Constitucional austríaco no último ano até ter sido nomeada chanceler interina esta quinta-feira. Será a primeira mulher chanceler na Áustria a chefiar o Executivo até que se realizem novas eleições convocadas há dias para o final deste ano.
"Tudo farei para ganhar a confiança dos austríacos", declarou Bierlein numa emissão televisiva em que aparecia ao lado do Presidente, Alexander Van der Bellen. De seguida, a juíza anunciou que iria dar início de imediato a conversações com os partidos políticos e com organizações da sociedade civil, admitindo perante os jornalistas que a nomeação a tinha surpreendido.
Brigitte Bierlein, 69 anos, é descrita pelo Presidente austríaco como pessoa "prudente" e "altamente competente". "Esta é uma situação excecional e situações excecionais requerem determinação excecional posta ao serviço da República", acrescentou Van der Bellen.
A primeira mulher na chancelaria é uma estreia que sucede à de Sebastian Kurz, o mais jovem chanceler de sempre (na Áustria e noutros países), que se despediu depois de deposto com a promessa de regressar. Kurz não sobreviveu à moção de confiança do Parlamento da passada segunda-feira, que decorreu da crise governamental iniciada em 17 de maio.
Heinz-Christian Strache, vice-chanceler e líder do Partido da Liberdade, FPÖ na sigla em alemão, foi obrigado a demitir-se depois de ter vindo a público um vídeo no qual era visto a negociar influência com supostos empresários russos, alegadamente interferindo com os resultados das eleições gerais de 2017.
O escândalo de corrupção que ficou conhecido como "Ibizagate" fez rolar a cabeça de Strache e de mais uma série de ministros do mesmo partido, quebrando a coligação com o Partido Popular Austríaco, ÖVP, liderado por Kurz e provocando o voto de confiança do Parlamento da passada segunda-feira, que obrigou à retirada do chanceler eleito em 2017.
Além do mais jovem, Sebastian Kurz foi também o primeiro chanceler a ser deposto por não passar um voto de confiança na história moderna do país e aquele que teve o mandato mais breve de sempre, apenas 17 meses. Os deputados austríacos exigiram deste modo que Kurz se responsabilizasse pelos atos do parceiro de coligação de extrema-direita, Heinz-Christian Strache.
Quando ÖVP, de centro-direita, foi o mais votado em 2017, Sebastian Kurz optou por coligar com o partido que ficou abaixo dos social-democratas, em terceiro lugar, com o argumento de que, desse modo, faria aproximar do centro-direita o Partido da Liberdade, FPÖ, fundado por neonazis e com ligações à Rússia. Tal não aconteceu, o próprio Kurz chegou a ser apelidado de "Trump num fato elegante" relativamente à sua postura anti-imigração. Os deputados austríacos não perderam a oportunidade de sancionar o chanceler.
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