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Jornal alemão imprime quipá em tamanho real para quem quiser usá-lo em protesto contra onda antissemita

Jornal alemão imprime quipá em tamanho real para quem quiser usá-lo em protesto contra onda antissemita
Bild

"O quipá é alemão" foi a frase escolhida pelo jornal "Bild" para demonstrar solidariedade com a comunidade judaica na Alemanha, alvo de uma onda crescente de crimes de ódio

Jornal alemão imprime quipá em tamanho real para quem quiser usá-lo em protesto contra onda antissemita

Ana França

Jornalista da secção Internacional

Até pode ter sido com boas intenções que o disse mas não caiu bem a frase de Felix Klein, diretor do departamento contra o antissemitismo do governo alemão, sobre os perigos do uso do quipá em público: “Na Alemanha, não aconselho os judeus a usarem o quipá em todo o lado e a toda a hora”. A frase foi lida por alguns judeus como uma espécie de capitulação perante a escalada dos ataques antissemitas mas o Bild, um tablóide com uma popularidade assombrosa à luz dos números atuais de vendas da imprensa escrita na Europa (vende 2,5 milhões de cópias por dia), decidiu imprimir na primeira-página a imagem de um quipá e oferece instruções de como o recortar para assentar perfeitamente no topo da cabeça, onde é tradicionalmente usado pelos judeus como forma de demonstrarem o reconhecimento da superioridade divina sobre o ser humano.

“Usem-no de forma a que os vossos amigos e os vossos vizinhos o consigam ver e expliquem aos vossos filhos o que é um quipá”, escreveu o diretor da publicação, Julian Reichelt, no artigo que acompanha o “brinde”. “Publiquem fotos no Facebook, no Instagram e no Twitter, saiam para a rua com o quipá, porque se houver nem que seja uma pessoa no nosso país que não possa usá-lo sem se colocar numa situação perigosa, então a única solução possível é que todos o usemos”, pediu ainda.

A preocupação com os ataques antissemitas tem razão de ser - e números que a sustentam. Segundo dados do Ministério do Interior, os crimes de ódio contra judeus subiram 20% entre 2017 e 2018, enquanto o número de ataques à sua integridade física passou de 37 em 2017 para 69 no ano passado. O ministro do Interior, Horst Seehofer, disse que cerca de 89% destes incidentes têm como culpados elementos de grupos de extrema-direita.

O presidente de Israel, Reuven Rivlin, disse que entendia a posição do governo alemão mas pede que a sociedade alemã não ceda ao medo. “Reconhecemos e valorizamos a posição moral do governo alemão e seu compromisso com a comunidade judaica que vive lá, mas os medos sobre a segurança dos judeus alemães são uma capitulação ao antissemitismo e uma admissão de que, novamente, os judeus não estão seguros em solo alemão”, disse Rivlin em comunicado, citado pelo “Times of Israel”.

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