O conselho militar do Sudão suspendeu, esta quarta-feira, por três dias as conversações sobre a transição política no país. “Decidimos suspender as negociações durante 72 horas para preparar o terreno” para a conclusão de um acordo sobre a transição, anunciou o general Abdel Fattah Abdelrahman Burhan num discurso transmitido pela televisão pública.
Durante a suspensão, o general disse esperar que os bloqueios de estradas erguidos pelos manifestantes na capital, Cartum, sejam desmantelados. O líder do conselho de transição aguarda também a reabertura de uma linha ferroviária que liga a capital ao resto do país e que, segundo ele, foi encerrada pelos manifestantes, assim como o fim das provocações relativamente às forças da ordem.
Burhan justificou ainda a suspensão das negociações com a deterioração da segurança em Cartum, que assumiu a forma de “uma escalada verbal” contra as Forças Armadas, encerramento de pontes e ruas – além da linha férrea –, desordem na capital e “infiltração entre os manifestantes de elementos armados responsáveis por disparos contra a polícia”.
“Os mesmos métodos do regime anterior”
No discurso, o general defendeu as Forças de Apoio Rápido (RSF), que têm sido acusadas de intervenções musculadas contra os manifestantes e que fizeram oito feridos na quarta-feira e seis mortos (cinco civis e um militar) na segunda-feira. “As RSF desempenharam um papel de primeiro plano em tempos de guerra e de paz, assumindo a defesa do povo e contribuindo para o sucesso da sua revolução”, sublinhou.
No entanto, Amjad Farid, porta-voz da Associação dos Profissionais do Sudão – a principal promotora dos protestos que levaram à deposição do Presidente Omar al-Bashir –, responsabiliza os militares por ataques contra civis. “Eles usam os mesmos métodos que o regime anterior usava frente aos rebeldes”, disse à agência de notícias Reuters.
O conselho militar e os representantes do movimento de protesto deveriam negociar na quarta-feira os últimos pontos de um acordo sobre as instituições no período de transição, designadamente a composição de um conselho soberano. Este órgão, um conselho de ministros e uma assembleia legislativa deverão preparar o país, durante o período de transição fixado em três anos, para uma transferência do poder para os civis.
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