Julian Assange foi detido esta quinta-feira na embaixada do Equador em Londres, onde se encontrava refugiado há seis anos e 10 meses. O jornalista e fundador do Wikileaks perdeu o asilo diplomático, após “sucessivas violações das condições” impostas pelo país, anunciou o Presidente do Equador, Lenín Moreno.
Segundo o governante, a situação tornou-se insustentável face ao “comportamento agressivo e desadequado de Julian Assange, às ameaças hostis da sua organização contra o Equador e sobretudo o desrespeito pelos tratados internacionais.”
Entretanto, a polícia britânica explicou, em comunicado, que a detenção surge também na sequência de um mandado de extradição dos EUA, além de outro mandado de um tribunal de Londres emitido em 2012.
O ministro britânico dos Negócios Estrangeiro, Jeremy Hunt, já reagiu à detenção de Assange, frisando que é resultado de um longo diálogo entre as autoridades do Reino Unido e do Equador. “Julian Assange não é um herói e não está acima da lei. Ele fugiu à verdade durante anos. Graças à cooperação do Equador e do Presidente Lenín Moreno com o Ministério britânico dos Negócios Estrageiros foi possível assegurar que Assange enfrente a Justiça”, escreveu Jeremy Hunt no Twitter.
Wikileaks acusa embaixador equatoriano
A Wikileaks acusou, por sua vez, o embaixador do Equador de ter “convidado” a polícia britânica para deter o fundador do Wikileaks nas instalações da embaixada em Londres e de “desrespeitar a lei internacional”.
Já Geoffrey Robertson, um dos advogados de defesa de Julian Assange, lamentou a detenção do seu cliente, alegando que estão em causa o desrespeito pelas leis internacionais e pela liberdade de imprensa. “O Equador será banido da comunidade internacional ao fazer isto. Não se pode dar asilo a alguém durante sete anos e simplesmente retirá-lo depois”, declarou o advogado, falando ainda em pressões por parte dos EUA.
Porta-voz da organização fez alerta
A detenção do fundador do Wikileaks acontece um dia depois de o porta-voz desta organização, Kristinn Hrafnsson, ter alertado que Julian Assange estava a ser espiado, refere o “Guardian”.
Em conferência de imprensa, o responsável disse na quarta-feira que o fundador do Wikileaks estava a ser alvo de chantagem com a ameaça de divulgação de vídeos, áudios e vários tipos de documentos como exames médicos.
Julian Assange, de 47 anos, deixou de ter acesso à internet em março e foi impedido também na mesma altura de receber visitas na embaixada na capital britânica. Medidas que levaram, na semana passada, o jornalista australiano John Pilger a apelar às pessoas para se concentrarem junto à embaixada do Equador em Londres, manifestando solidariedade e apoio a Assange.
O fundador do Wikileaks está acusado na Suécia de abusos sexuais sobre duas mulheres, podendo ser extraditado para o país após a sua detenção. Também os EUA apelam há vários anos à extradição de Assange devido à divulgação de milhares de documentos confidenciais do Estado norte-americano e das suas Forças Armadas.
No entanto, o Presidente do Equador garantiu que as autoridades britânicas lhe asseguraram que não iriam extraditar o fundador do Wikileaks “para um país onde poderia sofrer tortura ou mesmo pena de morte”, avança o diário “El País”.
Também o porta-voz Comissão Europeia disse que o executivo comunitário está a seguir de perto a situação de Julian Assange, uma vez que a Suécia está envolvida no caso e trata-se, por isso, de um “assunto judicial europeu”.
Desde junho de 2012 que Julian Assange se encontrava refugiado na embaixada do Equador em Londres, de forma a evitar ser extraditado para a Suécia.
(Artigo atualizado às 14h25)
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