Internacional

“Estamos a chegar, Trípoli.” General renegado apela a “marcha vitoriosa” sobre os “injustos”

Khalifa Haftar, comandante do autoproclamado Exército Nacional da Líbia
Khalifa Haftar, comandante do autoproclamado Exército Nacional da Líbia
Chesnot

O comandante do autoproclamado Exército Nacional da Líbia ordenou um avanço pacífico sobre a capital. As tropas só devem levantar as armas “perante aqueles que procuram a injustiça”, lembrou. De visita ao país, Guterres apelou à “calma e contenção”. EUA, França, Reino Unido, Itália e Emirados Árabes Unidos pediram fim imediato na escalada de tensões

“Estamos a chegar, Trípoli.” General renegado apela a “marcha vitoriosa” sobre os “injustos”

Hélder Gomes

Jornalista

O comandante do autoproclamado Exército Nacional da Líbia, Khalifa Haftar, ordenou esta quinta-feira às suas forças militares de leste que avancem sobre a capital do país, Trípoli.

Haftar, que comanda as tropas a partir da sua base em Bengazi, já tomou Gariam, uma cidade a 100 quilómetros da capital, o que corresponde a uma escalada na luta pelo poder no país, noticia a Al Jazeera.

O comandante descreveu as movimentações das suas tropas como “uma marcha vitoriosa” para “abalar as terras sob os pés do bando de injustos”. “Estamos a chegar, Trípoli. Estamos a chegar”, anunciou, exortando as suas forças a entrarem na cidade pacificamente.

“Não há uma solução militar”, diz Guterres

Segundo Haftar, as tropas só devem levantar as armas “perante aqueles que procuram a injustiça e preferem o confronto e a luta”. O comandante pediu igualmente que não se abra fogo sobre civis ou pessoas desarmadas: “Aqueles que pousarem as suas armas e aqueles que levantarem a bandeira branca estão seguros.”

O apelo coincidiu com a visita ao país do secretário-geral da ONU, António Guterres, que se disse “profundamente preocupado com as movimentações militares” e com “o risco de confrontação”. “Não há uma solução militar. Apenas o diálogo intralíbio pode resolver os problemas da Líbia”, sublinhou, apelando à “calma e contenção”.

O país, em turbulência desde a deposição do coronel Muammar Kaddafi em 2011, tem pelo menos duas administrações rivais: um Governo internacionalmente reconhecido, estabelecido em Trípoli e chefiado pelo primeiro-ministro Fayez al-Sarraj, e um outro na cidade oriental de Tobruque, alinhado com o general renegado Haftar.

“Já não é segredo que a missão da ONU coopera com Haftar”

Entretanto, a mais alta autoridade religiosa da Líbia apelou à mobilização nas ruas. “O povo líbio deve resistir e lutar contra as forças de Haftar em Trípoli para não haver crimes contra a humanidade cometidos em Derna e Bengazi. Já não é segredo que a missão das Nações Unidas no país coopera com Haftar”, disse à Al Jazeera o grande mufti Sadiq Al-Ghariani.

Em comunicado conjunto, EUA, França, Reino Unido, Itália e Emirados Árabes Unidos apelaram esta quinta-feira a um fim imediato na escalada de tensões. “Os nossos governos opõem-se a qualquer ação militar na Líbia e responsabilizarão qualquer fação líbia que precipite mais conflito civil. Neste momento delicado na transição da Líbia, a postura militar e as ameaças de ação unilateral só arriscam conduzir a Líbia de volta ao caos”, refere o documento.

As tensões agravaram-se na quarta-feira depois de as forças de Haftar terem anunciado avanços na parte ocidental do país, levando o Governo de Trípoli a declarar alerta militar. O agravamento das tensões acontece numa altura em que a ONU se prepara para realizar uma conferência, ainda este mês, para discutir uma solução política e preparar o país para umas eleições há muito adiadas.

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