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They tried to make me go to Brexit but I said no, no, no... and no!*

They tried to make me go to Brexit but I said no, no, no... and no!*
NurPhoto/Getty

Deputados britânicos rejeitaram quatro moções sobre a saída da UE no segundo dia de votações não-vinculativas em busca de uma solução para o impasse. Um parlamentar abandonou o partido do Governo devido à sua alegada intransigência

They tried to make me go to Brexit but I said no, no, no... and no!*

Pedro Cordeiro

Editor da Secção Internacional

O mês em que o Reino Unido já não devia estar na União Europeia (UE) começou com o Parlamento a marcar passo na resolução da crise política gerada pelo Brexit. A 11 dias do novo prazo de saída, a Câmara dos Comuns rejeitou esta segunda-feira quatro moções levadas a uma votação não-vinculativa, a segunda do género, após a de quarta-feira passada. Dentro de dois dias pode haver nova votação deste género.

As ideias chumbadas iam do Brexit suave com manutenção do país em união aduaneira com a UE a um referendo a confirmar qualquer opção de saída. Já na semana passada oito opções tinham sido recusadas, algumas das quais ressuscitaram hoje. Igualmente repudiado foi, por três vezes, o acordo firmado entre a primeira-ministra Theresa May e os parceiros europeus.

A sessão ficou marcada pela intervenção, na galeria reservada ao público, de 11 manifestantes ambientalistas que, seminus, colaram as mãos à galeria, voltando as nádegas aos parlamentares. Os ativistas, da associação Extinction Rebellion, ficaram nessa posição quase 20 minutos, até a polícia os desalojar e deter por atentado à decência.

Entretanto os deputados procuravam manter a fleuma britânica. Alguns parlamentares não resistiram a brincar com o assunto, falando de “verdade nua e crua”. Nick Boles, autor de uma das moções, até deu pela falta do colega Bernard Jenkin, conhecido amante do naturismo.

União aduaneira foi a que menos repúdio gerou

Pouco passava das 22h quando o speaker dos Comuns, John Bercow, anunciou o resultado das votações. A proposta mais bem-sucedida foi a do conservador Kenneth Clarke, antigo ministro das Finanças e deputado há mais tempo em funções. Sugeria que a saída se fizesse com um acordo que previsse pelo menos uma união aduaneira abrangente entre o Reino Unido no seu todo e a UE. Reuniu 273 votos a favor e 276 contra.

O também conservador Nick Boles, europeísta como Clarke, chamou à sua ideia “mercado comum 2.0”. Subscreveram-na colegas de partido mas também trabalhistas e até um nacionalista escocês. Defendiam que ao sair da UE o país ficasse no Espaço Económico Europeu e na Associação Europeia de Comércio Livre (EFTA), o que implicava um “acordo aduaneiro abrangente” com os 27. O Reino Unido teria “uma palavra” sobre futuros acordos comerciais da UE a procuraria um acordo comercial que permitisse dispensar nova fronteira física entre as Irlandas. Obteve 261 votos positivos e 282 negativos.

Boles abandonou a bancada conservadora e passou a deputado independente, criticando o partido por não fazer cedências no dossiê do Brexit. O processo já levou três companheiras suas e oito trabalhistas e abandonar as respetivas formações para fundar o Grupo Independente, que quer agora converter-se em partido com o nome Mudar o Reino Unido.

Referendo rejeitado... de novo

Os trabalhistas Peter Kyle e Phil Wilson, cujo partido (o maior da oposição) não fez propostas formais, apresentou uma moção a exigir uma consulta popular sobre qualquer acordo que a Câmara dos Comuns venha a aprovar. Foi a proposta com mais votos positivos (280), mas 292 deputados rejeitaram-na.

Já a proposta da nacionalista escocesa Joanna Cherry para revogar o artigo 50 (que rege a saída de membros da UE) caso seja a única forma de evitar uma saída sem acordo foi chumbada com 292 votos contra e 191 a favor. Isto apesar de ter apoio multipartidário.

Não houve reação oficial do Executivo a estas votações. May ordenou aos seus ministros que se abstivessem (daí a diferença entre as somas de votos e o total de 650 deputados, dos quais 639 costumam votar).

Alguns deputados pediram que a primeira-ministra solicitasse a Bruxelas um adiamento mais longo do Brexit, mas ficaram sem resposta até à hora de publicação deste texto. Outros sugeriram combinar várias das moções numa próxima ocasião (3 de abril) ou aprovar o acordo de May, se esta voltar a apresentá-lo, com a condição de em seguida fazê-lo referendar.

Qualquer cenário de adiamento longo implicaria sempre a participação dos britânicos nas eleições europeias de maio. No atual estado de coisas, o Reino Unido sai da UE na sexta-feira 12 de abril, com ou sem acordo.

*Tentaram obrigar-me a ir para o Brexit, mas eu disse não, não, não, não. Paráfrase de uma letra da grande estrela cadente britânica que foi Amy Winehouse

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