Sobreviventes do ataque terrorista em Christchurch e artistas como Cat Stevens (que adotou o nome de Yusuf Islam depois da sua conversão ao islamismo) estiveram entre as cerca de 20.000 pessoas que se reuniram esta sexta-feira – madrugada em Portugal, já manhã na Nova Zelândia – para uma cerimónia em memória das 50 vítimas mortais do ataque a duas mesquitas, precisamente duas semanas depois. O evento decorreu no Parque Hagley, bem perto da mesquita Al Noor, onde ocorreram 42 das mortes.
A grande estrela acabou por ser a primeira-ministra neozelandesa Jacinda Ardern, que recebeu uma ovação de pé antes de um discurso tocante e que apelou à reconciliação. “Cada um de nós tem o poder – nas nossas palavras, nas nossas ações, nos nossos atos diários de gentileza – e que esse seja o legado de 15 de março. Não somos imunes aos vírus do ódio, do medo, do outro. Nunca fomos. Mas podemos ser a nação que descobre a cura”, declarou, posicionando o seu país como um estado aberto aos estrangeiros.
“Somos um lugar plural, que é acolhedor, que é generoso e solidário. Esses valores representam o melhor de nós. Mas até o mais terrível dos vírus pode existir num lugar onde não é bem-vindo. O racismo existe, mas não é bem-vindo aqui”, afirmou Jacinda Ardern, que tinha a seu lado o primeiro-ministro australiano Scott Morrison. O autor confesso do ataque é precisamente natural do país vizinho.
Outros chefes de Estado de países do Pacífico acompanharam a cerimónia, em que Ardern vestiu a tradicional capa maori, o povo nativo da Nova Zelândia. “O mundo tem sido aprisionado num ciclo vicioso de extremismo que gera extremismo e isso deve terminar. Não podemos combater isso sozinhos, ninguém pode. A resposta está nas mãos da humanidade. Por agora vamos recordar as lágrimas da nossa nação e a nova determinação que criámos.”
Os nomes de todas as pessoas mortas no ataque foram lidos, incluindo o de Husna Ahmed, cujo marido, Farid Ahmed, assistiu ao evento, numa cadeira de rodas. “Perguntam-me como posso perdoar quem matou a minha querida esposa. Alá ama aqueles que controlam a sua raiva e perdoam o seu semelhante”, testemunhou.
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