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“Temer será solto em brevíssimo tempo”. Ou como “a pirotecnia é parte do ‘modus vivendi’ da Lava Jato”

“Temer será solto em brevíssimo tempo”. Ou como “a pirotecnia é parte do ‘modus vivendi’ da Lava Jato”
MAURO PIMENTEL/AFP/Getty Images

“Prender Temer e comparsas nas vésperas do recurso de Lula no Supremo servirá para justificar a sua condenação com a conversa de que não é apenas Lula que está preso”, relativiza politólogo brasileiro ao Expresso. A Polícia Federal deteve na quinta-feira Michel Temer e tenta cumprir outros mandados de detenção contra aliados do antigo Presidente

“Temer será solto em brevíssimo tempo”. Ou como “a pirotecnia é parte do ‘modus vivendi’ da Lava Jato”

Hélder Gomes

Jornalista

A prisão do antigo Presidente brasileiro Michel Temer e do ex-ministro Moreira Franco, ambos do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), tem água no bico. É pelo menos essa a convicção do cientista político Benedito Tadeu César. “Prender Temer e os seus comparsas nas vésperas do julgamento do recurso de Lula no Supremo Tribunal de Justiça (STJ) servirá para justificar a sua condenação com a conversa de que não é apenas Lula que está preso”, diz ao Expresso.

“Servirá para emparedar Gilmar Mendes [juiz do Supremo], que se verá com dificuldade para dar mais um habeas corpus. Servirá também de recado a Rodrigo Maia [presidente da Câmara dos Deputados], genro do ‘gato angorá’ agora preso”, prossegue o politólogo. Moreira Franco é conhecido desde os anos 1990 como “gato angorá” por causa da sua cabeleira branca e do seu perfil de catavento político, como um gato que passa de colo em colo. “Depois do julgamento do recurso de Lula, eles soltarão todos com um habeas corpus de outro juiz”, garante Tadeu César.

Numa ação a pedido dos investigadores da Operação Lava Jato, a Polícia Federal deteve Temer na quinta-feira da semana passada e tenta cumprir outros mandados de detenção contra aliados do antigo Presidente. Temer, o segundo ex-chefe de Estado brasileiro a ser detido no espaço de um ano, está a ser investigado em vários casos naquela que é considerada a maior operação de combate à corrupção na história do Brasil. Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT), foi o primeiro antigo Presidente a ser detido no âmbito da Lava Jato e encontra-se a cumprir uma pena de prisão em Curitiba.

Temer, “líder de organização criminosa que atua há 40 anos”

Em conferência de imprensa no Rio de Janeiro, procuradores do Ministério Público afirmaram que Temer é o líder de uma organização criminosa que atua no país há 40 anos. “O coronel João Baptista Lima Filho e Michel Temer atuam juntos desde a década de 1980. Eles conheceram-se quando Temer era secretário de Segurança Pública de São Paulo. Na mesma época, o coronel Lima passou a atuar na [empresa de consultoria] Argeplan”, explicou a procuradora Fabiana Schneider.

“Provas documentais mostram que houve um crescimento visível das contratações da Argeplan nos períodos em que Temer ocupava cargos públicos, o que também indica que a organização criminosa vem atuando até aos dias de hoje”, acrescentou.

Depois de apresentarem outros exemplos, os procuradores disseram que a organização criminosa terá sido responsável pelo desvio de 1,8 mil milhões de reais (407 milhões de euros), um valor que inclui a soma de todos os subornos pagos ao grupo identificado neste e noutros inquéritos.

“Está instalada a guerra entre as elites”

Temer classificou a sua prisão como “uma barbaridade”, enquanto o atual Presidente Jair Bolsonaro afirmou que o seu antecessor foi preso devido a acordos políticos em nome da governabilidade. No entanto, Bolsonaro ressalvou, citado pelo jornal “Estadão”, que “a governabilidade não se faz com esse tipo de acordos” mas “indicando pessoas sérias, competentes para integrar o Governo”. “Foi assim que fiz no meu Governo, sem acordo político, respeitando a Câmara e o Senado”, complementou.

Para o politólogo ouvido pelo Expresso, “está instalada a guerra entre as elites”. “Agora tratam de desprestigiar os políticos de todos os partidos e também o STF. Assim, só restarão confiáveis os integrantes da força tarefa da Lava Jato e os militares. Se a força tarefa não recuperar do baque, restarão apenas os militares”, prognostica Benedito Tadeu César. E acrescenta: “A pirotecnia é parte do modus vivendi da Lava Jato”.

“Tenho sérias dúvidas” de que “cartada” de Moro possa “virar o jogo”

O cientista político também não poupa o ministro da Justiça. “Sérgio Moro e os seus amigos da Lava Jato pensam que realizaram uma grande cartada com a prisão de Temer, capaz de virar o jogo a seu favor depois da ofensiva do STF, da Procuradoria-Geral da República e de Rodrigo Maia contra os seus desmandos. Eles estavam acuados [encurralados] e pretenderam virar o jogo, recuperando espaço nos media e reconquistando a opinião pública. Tenho sérias dúvidas de que conseguirão”, sentencia.

“O mais provável é provocarem a ira do presidente da Câmara [dos Deputados] e de parcelas do MDB fiéis a Temer, que presidiu ao partido durante 15 anos e conhece as mazelas de todos os que o cercaram no poder. Temer será solto em brevíssimo tempo, assim como muitos de seus asseclas [partidários]”, remata Benedito Tadeu César.

Um dia depois de ser detido, o antigo Presidente brasileiro permaneceu em silêncio durante o interrogatório na Polícia Federal no Rio de Janeiro. Os advogados informaram que Temer não iria falar, argumentando que não tinha tido acesso às mais de 5000 páginas dos autos da operação. Segundo a procuradora Fabiana Schneider, das oito pessoas detidas, apenas o ex-ministro Moreira Franco prestou depoimento, negando ter recebido ou oferecido qualquer suborno.

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