Os donativos internacionais para ajuda humanitária de emergência atribuídos desde segunda-feira a Moçambique, Malawi e Zimbabwe, países afetados pelo ciclone Idai, ascendem a pelo menos 52,5 milhões de euros. No entanto, apesar de “a resposta às necessidades urgentes parecer agora mais rápida, está longe de conseguir mitigar o problema”, revela ao Expresso a ativista moçambicana Cídia Chissungo.
Numa comunicação difícil e “muito lenta”, “que se deve também à dimensão da catástrofe”, Chissungo relata que “os estragos são enormes” e que “há vilas que simplesmente desapareceram, engolidas pelas águas”. A responsável trabalha a partir da capital de Moçambique, Maputo, na central de apoio, uma plataforma que presta auxílio às vítimas das cheias e do ciclone.
As notícias que lhe vão chegando da Beira, a cidade da província de Sofala que tem sido a mais fustigada, são impressionantes. Chissungo destaca, por exemplo, “os relatos de mães que ficaram com água pela cintura durante 24 horas, com os bebés nas mãos e sem poderem movimentar-se”. Ou das “73 pessoas que ficaram em cima do posto administrativo de Búzi [vila da província de Sofala] durante três dias sem qualquer assistência, nem mesmo água ou comida”.
Comunidades rurais sob ameaça
O Presidente da República moçambicano Filipe Nyusi anunciou na terça-feira que mais de 200 pessoas morreram e 350 mil “estão em situação de risco”, tendo decretado o estado de emergência nacional. Entretanto, o ministro moçambicano do Território e Ambiente atualizou este número para 217 vítimas mortais. O país cumpre ainda três dias de luto nacional, até esta sexta-feira.
O ciclone, acompanhado por fortes chuvas e ventos de até 170 quilómetros por hora, atingiu a Beira, no centro de Moçambique, na quinta-feira à noite, deixando os cerca de 500 mil residentes sem energia nem comunicação. A Cruz Vermelha Internacional indicou que pelo menos 400 mil pessoas estão desalojadas, em consequência da passagem do Idai, naquela que é a quarta maior cidade do país.
Uma semana depois, muitas estradas continuam cortadas na Beira devido às cheias que se seguiram ao ciclone, ainda segundo a Cruz Vermelha. O cenário é devastador: “90% da área ficou totalmente destruída”, calcula a instituição humanitária. As comunidades rurais das províncias de Sofala e Manica estão agora sob a ameaça da subida do nível dos rios. As previsões meteorológicas indicavam que a chuva forte continuaria a cair até esta quinta-feira, a que se juntam as descargas das barragens que estão no limite das suas capacidades.
30 portugueses por localizar na cidade da Beira
O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro, anunciou esta quarta-feira que três dezenas de portugueses estão por localizar na cidade da Beira. “Temos na embaixada 30 pedidos de localização”, referiu o governante, poucas horas depois de chegar a Maputo e após um encontro com a embaixadora de Portugal na capital moçambicana, Maria Amélia Paiva.
No Zimbabwe, as autoridades contabilizaram pelo menos 82 mortos e 217 desaparecidos, enquanto no Malawi as únicas estimativas conhecidas apontam para pelo menos 56 mortos e 577 feridos.
Para as Nações Unidas, trata-se “possivelmente do pior desastre natural de sempre a atingir o hemisfério sul”.
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