“Eles roubaram a minha vida”, diz Junko lizuka. Aos 16 anos, esta japonesa foi levada para uma clínica para ser submetida a uma cirurgia. O motivo? Desconhecia.
“Deram-me a anestesia e não me lembro de mais nada”, explica ao “The Guardian” esta vítima de esterilização forçada no Japão. Quando acordou, Junko lizuka diz que se lembra apenas de estar deitada numa cama de hospital, com sede, mas que os médicos lhe explicaram na altura que não estava ainda autorizada a ingerir líquidos.
Esta mulher japonesa é uma das 16.500 que foram vítimas de esterilização forçada no Japão. A lei – que visava evitar o nascimento de crianças consideradas “inferiores” com eventuais deficiências – esteve em vigor entre 1948 e 1996, mas só agora haverá direito a indemnizações.
No ano passado, algumas vítimas processaram o Estado e serão agora recompensadas. De acordo com a imprensa japonesa, as indemnizações rondarão os 3,2 milhões de ienes (25 mil euros) por pessoa e serão acompanhadas por um “sentido pedido de desculpas”.
A primeira mulher que processou o Estado japonês, em 2018, devido a uma esterilização forçada aos 15 anos recorda “dias agoniantes”, que deixarão marcas até hoje. Também em declarações ao “The Guardian”, esta mulher, hoje com 60 anos – que não quis ser identificada –, acusa o Estado japonês de ter “violado os Direitos Humanos” com esta lei que esteve em vigor até há 23 anos, refere o site Kyodo News.
Os advogados de defesa das vítimas insistem contudo que a indemnização é insuficiente, uma vez que estão em causa “danos irreversíveis”.
A esterilisação forçada abrangeu sobretudo raparigas e mulheres no Japão, incluindo duas crianças de nove anos e quatro rapazes de 10 anos, de acordo com os dados oficiais.
O Comité das Nações Unidas (ONU) para a Eliminação da Discriminação contra as Mulheres já tinha apelado, em 2016, ao governo japonês para adotar medidas dirigidas para as vítimas, nomeadamente o acesso a medicamentos e assistência médica e as devidas compensações financeiras.
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