“Os dinossauros também pensavam que tinham tempo”: da Austrália ao Canadá, centenas de milhares de jovens fazem greve pelo clima
NEIL HALL
“Não há planeta B” e “Se não agem como adultos, nós agimos”. Estas são duas das principais palavras de ordem usadas por centenas de milhares de manifestantes que esta sexta-feira responderam ao apelo lançado pela adolescente sueca Greta Thunberg e pelas associações ecologistas e começaram a sair à rua um pouco por todo o mundo
Mais de 123 países deverão aderir a esta greve mundial de acordo com o FridaysforFuture - o movimento que está a coordenar esta iniciativa - que espera cerca de duas mil manifestações. O objetivo é fazer pressão sobre os responsáveis políticos para reduzir a emissão de gases com efeito de estufa, com prevê o Acordo de Paris.
Na Austrália, cerca de 150 mil pessoas manifestaram-se nas principais cidades do país. Só em Sydney, perto de 20 mil pessoas terão saído à rua, no que foram acompanhados pelos habitantes de Canberra, Brisbane, Melbourne et Perth, entre outras cidades. No total, mais de 50 escolas australianas terão aderido aos movimento, com uma participação estimada entre 50 mil a 60 mil estudantes, segundo disse à agência France Press, Emma Demarchi, uma jovem de 16 anos anos pertencente à organização da mobilização em Melbourne. O fenómeno estendeu-se a Wellington, capital da Nova Zelândia, e a outras cidades do país, antes dos trágicos atentados a duas mesquitas. “As alterações climáticas são piores do que o Voldemort”, lia-se num cartaz feito à mão empunhado por um estudante em Wellington, numa referência ao vilão dos filmes de Harry Potterr, relatou a Reuters.
Em Hong Kong, mais de um milhar de estudantes concentraram-se frente à sede do Governo Central, exigindo que os seus responsáveis adotem medidas para combater as alterações climáticas. A vaga de mobilização estudantil em defesa do clima estendeu-se por outras regiões da Ásia, assumindo particular relevo no Japão, Coreia do Sul e Índia, por exemplo.
Em África, há registo de mobilizações importantes na Cidade do Cabo, na África do Sul, Uganda, entre outros países.
Na Europa, a Itália parece ser o país mais ativo em termos de mobilização pelo clima, com 216 eventos previstos para esta sexta-feira, segundo o diário La Reppublica, que cita números da FridaysforFuture. Seguem-se França (216), Alemanha (199), Suécia (129) e Reino Unido (111). Estudantes europeus convocaram também manifestações em Espanha (65), Portugal (36), Bélgica (31) e Irlanda (31) e Finlândia (26) .
Mais quentes do que o clima
"Plus chaud que le climat, on est plus chaud". O grito cantado ouve-se no centro de Bruxelas e percorre a multidão. Sobretudo entre os jovens. "Estamos mais motivadas para vir aqui protestar e conseguir uma lei que faça mudar as coisas", diz Juliette, de 14 anos, e explica que é isso que quer dizer "ser mais quente do que o clima". A amiga Leonor, ao lado dela, partilha a mesma vontade. Quer que os governantes "se mexam" e tomem decisões "concretas", como "eliminar os sacos dos supermercados" e "diminuir o preço dos transportes públicos".
Um pouco mais atrás, na multidão, está René. Traz um cartaz com fotografias de Leonardo Di Caprio e uma mensagem: "a terra esta a ficar mais quente do que o Leonardo quando era novo". Faltou às aulas em Antuérpia para vir manifestar-se pelo clima na capital belga. É já a terceira vez que o faz e diz que não vai desistir de fazer-se ouvir. "A minha mãe diz que eu não posso faltar às aulas, mas de que vale estudarmos e irmos à escola que se não tivermos um futuro", dispara. E vai mais longe na crítica aos governantes. "Eu não vejo ação. Na escola fazemos mais do que os políticos"
Brecat é um uns anos mais velho que elas e veio vestido de árvore em protesto pelas que deveriam ter sido plantadas há 20 - quando ele nasceu - e não foram, por inércia do Governo. "Eu acho que as florestas seriam uma boa solução para o problema do clima", diz ao Expresso
Jos vê a manifestação passar mas não está indiferente. Diz que as netas de 14 e 17 anos estão entre a multidão. "Tenho muito orgulho nelas", diz ao Expresso. Para este belga que veio de uma pequena aldeia flamenga perto de Antuérpia é preciso "pressionar o Governo a tomar medidas para salvar a Terra e o clima.
Do outro lado do Atlântico
Nos Estados Unidos, onde o apelo de Greta Thunberg foi seguido por Alexandria Villasenor, de 13 anos, natural de Nova Iorque, Haven Coleman, de 12 anos, natural de Denver e de Isra Hirsi, de 16 anos, de Mineapolis, estão previstas 168 manifestações. Um pouco mais a norte, no Canadá, mais de 110 mil estudantes universitários da região canadiana do Québec acabaram de votar pela greve às aulas esta sexta-feira para participarem na marcha pelo clima, avançou a Rádio Canadá. Em todo o país, estão previstas cerca de 54 manifestações.
No Brasil, por exemplo, 20 cidades de 12 estados além de Brasília anunciaram a intenção de aderir ao protesto desta sexta-feira. Segundo avança o site G1, estão marcadas manifestações nos seguintes locais: Bahia, Ceará, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.
Na Colômbia, além da capital, Bogotá, estão previstas para esta tarde concentrações de estudantes em cidade como Meddelín, Cali, Bucaramanga ou Florencia.