Ao abrir a janela nos primeiros minutos da madrugada de dia 14 de Março, os cariocas encontraram um arco íris perfeito, daqueles que insistem em ocupar o céu e saturar as cores da terra. “Discrição nunca foi o forte dela. E que símbolo mais bonito poderia ser se não o arco-íris que representa o nosso amor?” comentou Mônica Benicio, companheira de Marielle Franco, nas redes sociais. “Resignifiquem o dia de hoje. Vibrem amor por ela e por Anderson. Clamem justiça por ela, por ele, por nós.”
Para assinalar um ano da execução da vereadora e ativista dos direitos humanos, Marielle Franco, e do seu motorista Anderson Gomes, em vários bairros do Rio de Janeiro se organizou um “Amanhecer”. Centenas de pessoas se reuniram nas primeiras horas da manhã em diferentes pontos da cidade e entre música, poesia e ações de homenagem, pediram justiça numa semana em que duas detenções foram feitas numa das investigações criminais mais complexas dos últimos anos no Rio de Janeiro.
“Temos de lembrar a todos que não descansaremos enquanto este crime seguir impune e que o legado de Marielle não será interrompido,” disse a estudante Marta Dias que acordou mais cedo para se poder juntar às homenagens de rua. “Ela representava as mulheres, os negros, os favelados, a população LGBT, ela nos representava, o seu assassinato é um crime contra a democracia.”
As principais praças do Rio de Janeiro encheram-se de cor, flores, muitos girassóis para Marielle, cartazes com o seu rosto, nos Arcos da Lapa no Centro, um cartaz gigante perguntava “Quem mandou matar Marielle?”
Seguiu-se uma missa na Igreja da Candelária e uma Aula Magna onde se evocou o legado de Marielle Franco. O ato político e as representações culturais foram marcadas para o fim da tarde na Cinelândia, em frente à Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, onde Marielle trabalhou nos últimos anos da sua vida. Entre políticos, ativistas, representantes dos movimentos sociais e artistas, o palco foi também entregue ao grupo feminino de poesia de rua, Slam das Mina, que dedicou rimas de homenagem a Marielle. Pouco a pouco a praça ficou preenchida de gente, milhares de pessoas se reuniram entre cartazes, bandeiras, placas de Marielle Franco, t-shirts políticas à venda e vendedores de rua que deixaram um cheiro forte a pipoca doce no ar numa tarde de Verão muito quente.
“Estamos aqui para dar conta do legado dela,” disse Anielle Franco, irmã de Marielle.
Estiveram também presentes Andrea e Alessandra Gomes, irmãs de Anderson Gomes, o motorista de Marielle Franco que também foi assassinado a tiros durante a emboscada.
“Eu tenho muita gratidão com quem está comparando a minha mãe com o Nelson Mandela e com a Angela Davis, mas confesso que não gostaria que vocês estivessem aqui. Eu queria estar aqui com a minha mãe,” disse Luyara, filha de Marielle.
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