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Theresa May: “O Reino Unido vai mesmo sair da UE sem qualquer acordo, a menos que qualquer outro cenário seja acordado”

Theresa May: “O Reino Unido vai mesmo sair da UE sem qualquer acordo, a menos que qualquer outro cenário seja acordado”
EPA

Mais um dia complicado para a primeira-ministra britânica, que foi arrasada novamente depois de duas votações no parlamento

Theresa May: “O Reino Unido vai mesmo sair da UE sem qualquer acordo, a menos que qualquer outro cenário seja acordado”

Ana França

Jornalista da secção Internacional

Não são as melhores notícias para quem tem pesadelos com o facto de o Reino Unido vir a sair da União Europeia sem qualquer acordo que garanta trocas comerciais tão fluídas como agora, mas foi mesmo isso que Theresa May disse: os votos desta quarta-feira não afastam legalmente a possibilidade de uma saída caótica. “Em termos legais, o Reino Unido vai mesmo sair da União Europeia sem qualquer acordo, a menos que qualquer outro cenário seja acordado”, disse a primeira-ministra britânica logo após o voto que revelou que uma grande maioria da Câmara dos Comuns está a favor de evitar a todo o custo uma saída sem acordo.

Foram momentos de caos os que antecederam o segundo voto da noite - documentados ao minuto e com inescapável pasmo por parte dos jornalistas e deputados presentes em Westminster. Isto porque o primeiro voto da noite não foi sobre o texto principal do Governo, que perguntava aos deputados se aceitavam ou não a possibilidade de uma saída sem acordo, e sim sobre uma emenda, escrita por uma deputada conservadora, Caroline Spelman, que pedia ao parlamento que rejeitasse o cenário de não acordo em qualquer circunstância - independentemente de as negociações se estenderem por mais dois meses ou por mais dois anos. Essa emenda, que passou por apenas quatro votos, foi então incluída no texto principal,que também passou mas por uma maioria maior: 43 votos.

A confusão surgiu quando alguns membros do gabinete de ministros de May - e a própria May - começaram a tentar convencer os seus colegas deputados para que votassem contra o texto principal, apesar de ter sido um texto escrito pelo próprio Governo e que diz basicamente o mesmo que a emenda de Spelman. A diferença é que o texto de Spelman rejeita “sempre, a qualquer altura e em qualquer circunstância”, a saída sem acordo. O texto do Governo pede que os deputados rejeitem a saída sem acordo a 29 de março.

“Os ‘tories’ estão doidos. Primeiro prometem voto livre mas agora estão a pressionar os deputados para votarem contra a sua própria moção, emendada”, escreveu no Twitter Mary Creagh, deputada trabalhista por Wakefield. Já Stella Creasy, deputada dos trabalhistas por Walthamstow, foi mais dura com May. “Só para vos informar mesmo do que aqui se está a passar: Theresa May está agora a convencer deputados a deixarem em aberto a possibilidade de um ‘no deal’. Nenhum empresário que venda para a Europa, nenhuma pessoa com problemas de saúde que necessite de medicamentos específicos, se pode esquecer disto”, escreveu no Twitter.

No discurso depois do voto, May focou aquilo que é claro em Bruxelas há muito tempo: para se pôr de parte a possibilidade de uma saída caótica, então o Parlamento tem de aprovar um acordo. “Esta Casa tem de entender e aceitar que, se não estiver disposta a apoiar um acordo nos próximos dias, e como não está disposta a apoiar a saída a 29 de março sem um acordo, então o que fica subentendido é que será necessário uma extensão muito mais longa do artigo 50. Tal extensão exigiria, sem dúvida, que o Reino Unido realizasse as eleições para o Parlamento Europeu em maio de 2019”, disse May.

Esta quinta decide-se no parlamento se o país pede - ou não - a extensão do artigo 50 e o governo deverá oferecer quarta-feira (20) como o prazo final para os parlamentares passarem um acordo Brexit. Na moção de amanhã lê-se que se um acordo for aprovado até então, o governo irá tentar garantir junto da União Europeia uma extensão do artigo 50 até 30 de junho.

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