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“O polícia disse-me para agradecer a Deus em vez de protestar.” A história de quem perdeu o voo para o Quénia e evitou a morte

“O polícia disse-me para agradecer a Deus em vez de protestar.” A história de quem perdeu o voo para o Quénia e evitou a morte
MICHAEL TEWELDE

Enquanto se apuram as causas que levaram à queda do avião da Ethiopian Airlines, que resultou na morte de 157 pessoas, Antonis Mavropoulos e Ahmed Khalid suspiram de alívio e agradecem ao universo e às suas coincidências por não terem entrado na aeronave

“O polícia disse-me para agradecer a Deus em vez de protestar.” A história de quem perdeu o voo para o Quénia e evitou a morte

Helena Bento

Jornalista

Quando Antonis Mavropoulos, cidadão grego, começou a desbaratar contra tudo e todos por não o terem ajudado a perceber onde era a porta de embarque para o voo para Nairobi, capital do Quénia, e ter, por causa disso, perdido o voo, estava longe de saber que esse viria a ser, afinal, o seu “dia de sorte”. O mesmo aconteceu a Ahmed Khalid, residente no Dubai. O voo anterior tinha-se atrasado, não chegou a tempo de apanhar o segundo, que viria a despenhar-se minutos após descolar do Aeroporto Internacional Bole, em Addis Abeba, capital da Etiópia, matando as 157 pessoas que seguiam a bordo.

Enquanto se apuram as causas que levaram à queda do Boeing 737 Max 8, da Ethiopian Airlines, Antonis Mavropoulos e Ahmed Khalid suspiram de alívio e agradecem ao universo e às suas coincidências por não terem entrado na aeronave. Numa publicação partilhada no Facebook, o grego, que é presidente da Associação Internacional de Resíduos Sólidos (ISWA, na sigla em inglês), conta que conseguiu lugar no voo seguinte com destino a Nairobi mas foi impedido de embarcar. Quando foi levado para uma esquadra da polícia e lhe perguntaram por que razão não tinha apanhado o primeiro voo, percebeu o que tinha acontecido. “O polícia que estava a fazer-me perguntas disse-me para agradecer a Deus em vez de protestar.” Antonis Mavropoulos viajava para Nairobi para participar numa reunião do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Outras 18 vítimas da queda da aeronave eram funcionários da ONU, de diferentes agências.

A história de Ahmed Khalid tem detalhes diferentes mas o fim é o mesmo. O voo anterior atrasara-se, ele atrasara-se, e perdera o voo de ligação para o Quénia. Embarcou no avião seguinte e foi aí que percebeu que havia algo de errado. “Toda a gente estava a perguntar aos tripulantes de cabine o que tinha acontecido, mas ninguém respondia”, contou ao jornal “The National”. Entretanto, um dos passageiros leu a notícia da queda no telemóvel e contou aos restantes.

É a segunda vez que um Boeing 737 Max 8 cai desde que entrou em atividade, em 2017. Em outubro do ano passado, um avião do mesmo modelo, operado pela companhia aérea low cost Lion Air, caiu 13 minutos depois de ter descolado de Jacarta. Morreram os passageiros e os tripulantes a bordo - 189 pessoas no total.

A Ethiopian Airlines anunciou que nenhum outro Boeing 737 MAX voltará a voar nos próximos tempos (a China também já anunciou o mesmo) e expressou as suas condolências às “famílias e pessoas próximas” das vítimas. Também Abiy Ahmed, primeiro-ministro da Etiópia, o fez, via Twitter. Entre os passageiros, que vão sendo identificados a conta-gotas, encontravam-se 12 pessoas oriundas do Quénia, 18 canadianos e sete britânicos.

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