A editora do "The New York Times", Juliana Barbassa, preparava-se para trabalhar na cobertura do Carnaval no Brasil quando o presidente Jair Bolsonaro publicou na sua conta de Twitter a imagem de uma pessoa a urinar em cima de outra durante um bloco de rua em São Paulo. “O que deve um editor fazer num momento destes?” 'twittou' a jornalista. “Bolsonaro conseguiu fazer com que o NYTimes incluísse o termo ‘golden shower’ num título.”
Ao tentar criticar os blocos de rua e as celebrações de Carnaval um pouco por todo o Brasil, Bolsonaro publicou um vídeo de um ‘golden shower’ (ato de urinar em alguém, também conhecido como 'chuva dourada'). Pouco depois, e após algumas reações dos seus 3,4 milhões de seguidores, o presidente questionou “o que é um golden shower?”
O Twitter censurou o 'post' do presidente de extrema direita ao restringir a sua visualização por conteúdo impróprio. O deputado e advogado Paulo Teixeira, do PT, vai entrar com uma ação na Procuradoria Geral da República contra Bolsonaro por vídeo divulgado sem consentimento. Caso seja condenado, o presidente Jair Bolsonaro pode ser afastado do cargo. As hashtags #impeachmentBolsonaro e #GoldenShowerPresident tornaram-se populares no Twitter.
Miguel Reale Júnior, autor do pedido de 'impeachment' contra a presidente Dilma Rousseff, considera que a postagem de Bolsonaro se enquadra no artigo sobre falta de decoro na lei sobre crimes de responsabilidade no Brasil e que o presidente é passível de 'impeachment' por ter publicado o vídeo.
As reações ao 'post' polémico de Bolsonaro vão desde indignação e surpresa até choque e condenação por parte de apoiantes e opositores. A paulista Gabriela Erbetta lembra que Bolsonaro foi eleito por uma base puritana, que considera defender os valores da família tradicional, e que a mais popular ’fake news’ com a acusação sobre a distribuição de biberões de pénis por parte do candidato Fernando Haddad (contra quem concorreu na última eleição presidencial) o ajudou a ganhar a eleição. “Eu aqui me divertindo pensando na cara do povo todo que estava com medo da mamadeira de piroca quando clicou no vídeo do Bolsonaro.”
Pouco tempo depois da publicação do 'post' do presidente do Brasil, nas ruas do Rio de Janeiro a polémica levou algumas pessoas a fantasiar-se de ‘golden shower’, como durante o bloco das Mulheres Rodadas no Largo do Machado no Flamengo.
Guilherme Boulos, o ex-candidato à presidência do Brasil pelo PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) usou a postagem de Bolsonaro, que o presidente alega ter divulgado para denunciar as práticas do Carnaval, para denunciar polémicas recentes do governo Bolsonaro.
Os festejos de Carnaval no Brasil foram marcados por homenagens a Marielle Franco, a vereadora assassinada no Rio de Janeiro há um ano, e por fortes críticas ao governo Bolsonaro. A atual situação política do Brasil inspirou os foliões, uma das fantasias mais populares foi a de laranja, em referência ao motorista Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, que não foi depor ao Ministério Público sobre suposta lavagem de dinheiro por alegadamente se encontrar doente. “Toma, toma vitamina C, pra não ficar doente e falar com o MP,” cantaram os foliões. O Carnaval deste ano foi também marcado por cânticos de “meu deus eu não me engano, o Bolsonaro é miliciano” com referência ao envolvimento de elementos das milícias com a família Bolsonaro.
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