As autoridades chinesas estão a recolher material genético de uigures e de outros grupos minoritários muçulmanos com a ajuda de uma empresa e de um especialista norte-americanos. A denúncia é feita na edição desta sexta-feira do jornal “The New York Times”, que cita grupos de direitos humanos e ativistas uigures.
Sob o pretexto de exames médicos gratuitos na região autónoma de Xinjiang, onde grande parte da população é uigur, o Governo tem recolhido amostras de ADN, imagens da íris e outros dados pessoais de dezenas de milhões de pessoas. Nalguns casos, as pessoas são informadas de que os exames são obrigatórios.
A medida inscreve-se numa vasta campanha de Pequim, iniciada em 2016, que pretende tornar os uigures, um grupo étnico predominantemente muçulmano, mais subservientes ao Partido Comunista, escreve o jornal. As autoridades já detiveram cerca de um milhão de pessoas no que apelidam de “campos de reeducação”, o que motivou críticas de grupos de direitos humanos e a ameaça de sanções da Administração Trump.
Thermo Fisher e Kenneth Kidd, os contactos americanos
A recolha de material genético é uma parte fundamental da campanha, dizem grupos de direitos humanos e ativistas uigures. Segundo eles, uma abrangente base de dados de ADN poderá ser usada para perseguir os uigures que resistam à campanha das autoridades de Pequim.
Para reforçarem as suas capacidades de recolha, os cientistas, que trabalham em estreita colaboração com a polícia chinesa, usaram equipamento fabricado pela Thermo Fisher, uma empresa localizada no estado norte-americano do Massachusetts. E para estabelecer termos de comparação com o ADN uigur, a equipa recorreu a material genético de pessoas de todo o mundo que lhe foi fornecido por Kenneth Kidd, um especialista em genética da Universidade de Yale.
Pequim fala em vantagens no combate ao crime
A Thermo Fisher garantiu na quarta-feira que não comercializaria mais equipamento em Xinjiang, onde a campanha para monitorizar uigures é mais intensa. Já o especialista disse que desconhecia a forma como o seu material estava a ser usado, afirmando acreditar que os cientistas chineses agiam de acordo com as normas científicas que exigem um consentimento informado dos doadores de ADN.
Pequim justifica a medida com as vantagens no combate ao crime dos seus estudos genéticos. As forças policiais dos EUA e de outros países usam material genético de membros da família de suspeitos para os localizarem e resolverem crimes.
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