O senador republicano Ted Cruz reiterou esta terça-feira a sua solução para financiar o muro na fronteira entre os EUA e o México: o recém-condenado Joaquín Guzmán. O narcotraficante mexicano, conhecido como “El Chapo”, foi considerado culpado em todas as dez acusações que sobre ele pendiam, incluindo lavagem de dinheiro, tráfico internacional de droga, associação criminosa e uso de armas de fogo.
O líder do violento cartel de drogas do estado de Sinaloa enfrenta uma sentença de prisão perpétua. A justiça americana também planeia deliberar sobre o confisco da propriedade que “El Chapo” adquiriu com o tráfico de droga. O valor dessa propriedade está estimado em 14 mil milhões de dólares (mais de 12 mil milhões de euros).
Após a condenação na terça-feira, Ted Cruz reforçou o apelo para que esse dinheiro seja usado na segurança na fronteira. “Os promotores dos EUA procuram 14 mil milhões de dólares em lucros com drogas e outros ativos de ‘El Chapo’, que deveriam ser direcionados para o financiamento do nosso muro para proteger a fronteira”, escreveu no Twitter.
A lei ‘El Chapo’
“Está na hora de aprovar a minha lei ‘El Chapo’. Apelo aos meus colegas do Senado para que ajam rapidamente nesta legislação crucial”, acrescentou. O senador do Texas começou por apresentar o projeto de lei em abril de 2017, tendo-o reintroduzido no mês passado. A pressão de Cruz surge numa altura em que ambas as câmaras do Congresso se preparam para fazer avançar um acordo de despesas com a segurança fronteiriça elaborado por um grupo de negociadores democratas e republicanos.
O acordo, que o Presidente Donald Trump terá de assinar até sexta-feira para evitar um novo ‘shutdown’, prevê 1,375 mil milhões de dólares em financiamento para barreiras físicas. O valor fica muito aquém dos 5,7 mil milhões de dólares que Trump tem pedido.
“O tráfico de drogas vai continuar”
A construção do muro ao longo da fronteira com o México foi uma das principais promessas da campanha de Trump em 2016. O Presidente recuou na exigência de obrigar as autoridades mexicanas a pagarem pelo muro de cimento. No entanto, no discurso sobre o Estado da União na semana passada, insistiu numa “barreira de aço inteligente, estratégica e transparente”.
Trump já ameaçou declarar emergência nacional e financiar o muro sem o Congresso. Mas a ideia não colhe nem mesmo junto de alguns congressistas republicanos e seria contestada em tribunal pelos democratas. Foi o diferendo relativamente ao financiamento do muro que provocou o mais recente ‘shutdown’, cujo custo para a economia americana foi estimado em 11 mil milhões de dólares.
Entretanto, no México, a notícia da condenação de “El Chapo” foi recebida com resignação e ceticismo, segundo a agência de notícias Reuters. “O tráfico de drogas vai continuar. Ninguém o pode parar”, disse um cidadão de Culiacán, a capital do estado de Sinaloa. Outro mexicano ouvido pela Reuters lembrou que o barão da droga “ajudou muitas pessoas, construindo estradas, escolas e igrejas”, enquanto um terceiro classificou a condenação como “contraproducente”: “Há mais pessoas que querem tudo o que ‘El Chapo’ controlava.”
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