O deputado federal Jean Wyllys (do Partido Socialismo e Liberdade - PSOL) está fora do Brasil e não tenciona voltar, disse o próprio numa entrevista ao jornal Folha de São Paulo, na qual confessou ainda sentir-se em risco de vida devido às múltiplas ameaças que tem recebido.
Wyllys foi o primeiro deputado federal brasileiro abertamente homossexual e começou logo em 2010, a primeira vez que foi eleito a “fazer barulho” pelos direitos da comunidade LGBTQ+. Foi eleito pela terceira vez no ano passado mas por pouco não falhou a reeleição: ficou em último lugar nos 46 reservados à região do Rio de Janeiro. É talvez um sinal da mudança de mentalidades no Brasil, que desaguou na eleição de Jair Bolsonaro e numa crescente animosidade em relação às minorias que se tem notado um pouco por todo o país.
Abdica agora do mandato para “perseguir a vida académica” e também para atender a coisas mais imediatas: “Quero cuidar de mim e me manter vivo. Eu não quero ser mártir. Eu quero viver”, disse à Folha.
Desde o assassinato da vereadora Marielle Franco, Wyllys vive sob escolta policial. Pelo que disse à Folha dispensa mais quatro anos disso: “Como é que eu vou viver quatro anos da minha vida dentro de um carro blindado e sob escolta?”, questionou.
Outro ponto que pesou na decisão foram as revelações recentes de que o filho de Bolsonaro tenha contratado para o seu gabinete familiares de um ex-polícia militar, suspeito de chefiar a milícia investigada pela morte de Marielle. "Apavora-me saber que o filho do Presidente contratou no seu gabinete a esposa e a mãe do sicário", afirmou Wyllys.
“O presidente que sempre me difamou, que sempre me insultou de maneira aberta, que sempre utilizou de homofobia contra mim. Esse ambiente não é seguro para mim”, disse ainda.
Jair Bolsonaro já disse em entrevistas que é “homofóbico, com muito orgulho” e que preferia ter um filho morto a um filho homossexual, entre outras declarações homofóbicas documentadas ao longo dos anos.
David Miranda, o “gay favelado” que se segue
Também homossexual, e, tal como Wyllys, amigo da vereadora Marielle Franco, assassinada em março passado, David Miranda é o homem que se segue na cadeira de deputado pelo Rio de Janeiro. Na sua página de Facebook, assume uma série de rótulos que considera cada vez mais desprezados no Brasil e, por isso, com necessidade de que alguém os represente. “David Miranda é filho do Jacarezinho, negro, favelado e LGBT. Nunca conheceu o seu pai e aos cinco anos ficou órfão de sua mãe”.
O futuro deputado é casado com o jornalista Glenn Greenwald que, em 2013, fez parte da equipa que revelou o esquema de espionagem montado pelos Estados Unidos através da publicação do testemunho de Edward Snowden.
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