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Igreja espanhola não autoriza acesso ao Vale dos Caídos para exumação de Franco

Igreja espanhola não autoriza acesso ao Vale dos Caídos para exumação de Franco
PHILIPPE DESMAZES/AFP/Getty Images

O prior do Vale argumenta que falta o consenso da família do ditador espanhol e que o assunto ainda está pendente de ação judicial. Apesar dos “inconvenientes causados pela rejeição do prior”, o Governo afirma manter “a sua decisão de continuar com o processo de exumação, respeitando cada uma das garantias a que a família Franco tem direito por lei”

Igreja espanhola não autoriza acesso ao Vale dos Caídos para exumação de Franco

Hélder Gomes

Jornalista

A Igreja espanhola informou oficialmente o Governo que não autoriza o acesso ao Vale dos Caídos para a exumação do ditador Francisco Franco, ali enterrado desde 1975. A informação é avançada pelo jornal “El País”, que adianta que a resposta negativa foi enviada a 26 de dezembro pelo prior do Vale, o beneditino Santiago Cantera.

A recusa surge em resposta ao pedido de autorização obrigatória feito pela ministra da Justiça, Dolores Delgado, para entrar no templo. O prior argumenta que falta o consenso da família Franco e que o assunto ainda está pendente de ação judicial.

Perante a resposta negativa, o Governo declarou que “esperava esta atitude por parte de Santiago Cantera, cujos antecedentes ideológicos são conhecidos publicamente”. “Antes de ingressar na Ordem dos Beneditinos, o religioso foi candidato às eleições gerais de 1993 e às europeias de 1994 pelo partido Falange Española Independiente”, recorda o Executivo.

“O prior recusou-se em diferentes ocasiões a seguir as indicações dadas sobre este processo pelas autoridades eclesiásticas espanholas, tanto do Arcebispado de Madrid como da Conferência Episcopal. A posição de obstrução do prior Santiago Cantera não impedirá que o processo siga o seu curso mas evidentemente fará com que a opinião pública considere que a Igreja espanhola como um todo apoia a recusa deste antigo candidato falangista” e, com isso, “a recusa da própria família Franco”, prossegue o comunicado governamental.

Apesar dos “inconvenientes causados pela rejeição do prior”, o Executivo espanhol afirma manter “a sua decisão de continuar com o processo de exumação, respeitando cada uma das garantias a que a família Franco tem direito por lei”.

Os meandros do processo

Em meados de dezembro, o Supremo Tribunal espanhol rejeitou um pedido da família para que o Governo suspendesse o processo de exumação enquanto não fosse tomada uma decisão final. Em novembro, o Executivo tinha decidido continuar com o processo de transferência do corpo, apesar do recurso apresentado pela família.

Com a providência cautelar que apresentou, a família de Franco pretendia ganhar tempo, alegando que ainda não tinham sido ouvidos os familiares de todos os que estão enterrados no Vale dos Caídos que, como o ditador, não foram vítimas mortais da Guerra Civil espanhola.

Em setembro, o Parlamento aprovara a proposta governamental a autorizar a exumação dos restos mortais do ditador. Entretanto, ainda não se sabe para onde é que será exumado o corpo, depois de o Executivo ter recusado a sua transferência para a catedral de Almudena, em Madrid, como propôs a família. Para o Governo socialista, o corpo do ditador não pode ir para nenhum local onde possa ser “enaltecido ou homenageado”.

Francisco Franco foi um militar espanhol que integrou o golpe de Estado que, em 1936, marcou o início da Guerra Civil espanhola, tendo exercido desde 1938 o lugar de chefe de Estado, até morrer em 1975, ano em que se iniciou a transição do país para um sistema democrático.

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