Reino Unido. Governo promove o cigarro eletrónico, apesar das recomendações da OMS: “É 95% mais seguro”
NIKLAS HALLE'N/GETTY IMAGES
De acordo com a Public Health England, os cigarros eletrónicos podem ajudar a população a deixar de fumar. Alguns dados da mesma organização dizem que 65% a 68% das pessoas que recorreram a cigarros eletrónicos e terapias para substituição de nicotina conseguiram deixar de fumar
A Organização Mundial de Saúde (OMS) aconselha os fumadores a evitarem os cigarros eletrónicos, alegando que as consequências ainda não são sobejamente conhecidas. Ignorando estas recomendações da OMS emitidas nos últimos anos, o Governo britânico apelou esta sexta-feira ao contrário, dizendo que os cigarros electrónicos são 95% mais seguros do que o tabaco normal.
“Seria trágico se milhares de fumadores que podem deixar de fumar com a ajuda dos cigarros eletrónicos o deixassem de fazer por receios errados sobre segurança”, disse ao “The Guardian” John Newton, o diretor do Public Health England, o organismo responsável pela saúde pública daquele país. O Governo britânico vai publicar um vídeo de campanha nos próximos dias. “Temos de assegurar aos fumadores que trocaram para cigarros eletrónicos que será muito menos danoso do que fumar cigarros normais.”
O Governo britânico, em sentido contrário com a OMS, publicou um vídeo esta sexta-feira para demonstrar os efeitos dos cigarros convencionais e dos eletrónicos nos pulmões dos fumadores. O rasto de alcatrão num dos dois pequenos reservatórios que acabam de fumar ambos os tipos de cigarro é o foco da tese.
Regina Dalmau, a presidente do Comité Nacional para a Prevenção do Tabaco, desmente a versão. "Os dados que oferece o Reino Unido, de que são 95% menos danosos, referem-se exclusivamente a substâncias cancerígenas, mas não revela outras substâncias tóxicas." Dalmau sugere que existem estudos financiados pelas tabaqueiras.
Bloomberg/Getty Images
De acordo com a Public Health England, os cigarros eletrónicos podem ajudar a população a deixar de fumar. Alguns dados da mesma organização dizem que 65% a 68% das pessoas que recorreram a cigarros eletrónicos e terapias para substituição de nicotina conseguiram deixar de fumar.
O assunto está longe de ser consensual. Em agosto, por exemplo, o Masonic Cancer Center da Universidade do Minnesota, nos Estados Unidos, concluiu que os cigarros eletrónicos produzem químicos que podem danificar o ADN e causar cancro. Segundo este artigo do Expresso, metanal, acroleína e metilglioxal foram os químicos encontrados na saliva dos fumadores de cigarros eletrónicos. O mesmo estudo diz que em quatro dos cinco participantes verificaram-se mais danos no ADN da mucosa da boca.
Em maio, o coordenador da Comissão de Trabalho de Tabagismo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia disse ser necessário intervir junto dos adolescentes com campanhas e “trabalho continuado” para se evitar a iniciação tabágica, contava então a SIC Notícias.
Para José Pedro Boléo-Tomé, os cigarros eletrónicos são “um risco”, pois “são atraentes para os jovens”. Afinal, “dão uma aparência de serem interessantes, giros, tecnológicos”.
O coordenadores da Comissão de Trabalho de Tabagismo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia deixou ainda um alerta: “A falsa ideia de que são produtos seguros ou de que são muito mais seguros [do que os cigarros normais] é muito duvidoso, é preciso dizer às pessoas que são produtos que têm componentes perigosos, tóxicos e com altas doses de nicotina”. O risco de ficar-se dependente “é muito alto”.