A visita-surpresa do Presidente dos EUA, Donald Tump, às tropas americanas no Iraque foi uma “flagrante violação da soberania” iraquiana, acusou esta quarta-feira o líder do grupo parlamentar Islah, Sabah al-Saadi. O deputado convocou uma sessão de emergência no Parlamento para discutir a visita e “travar estas ações agressivas de Trump”, que “deve conhecer os seus limites: a ocupação americana do Iraque acabou”, acrescentou.
O grupo Bina, rival de Islah e encabeçado pelo líder miliciano Hadi al-Amiri, apoiado pelo Irão, também mostrou a sua oposição. “A visita de Trump é uma flagrante e clara violação das normas diplomáticas e mostra o seu desdém e hostilidade na forma como lida com o Governo iraquiano”, afirmou o grupo parlamentar.
Em comunicado, o gabinete do primeiro-ministro, Adil Abdul-Mahdi, revelou que os Estados Unidos informaram antecipadamente o Iraque sobre a visita de Trump. Os dois responsáveis falaram por telefone devido a um “desacordo” relativamente aos detalhes de um encontro. Segundo a agência Reuters, Abdul-Mahdi e Trump discordaram do local da reunião: o Presidente dos EUA pediu que ela se realizasse na base militar de Al-Asad, proposta que o primeiro-ministro iraquiano recusou.
Se as forças americanas não saírem, “temos a experiência e a capacidade de as remover através de outros métodos”
“A liderança americana foi derrotada no Iraque e quer voltar sob qualquer pretexto. E isso é algo que nunca permitiremos”, disse o antigo líder miliciano Falih Khazali, que se tornou um político aliado do Bina. O grupo parlamentar afirmou ainda que a visita de Trump “coloca muitos pontos de interrogação sobre a natureza da presença militar dos EUA e os seus verdadeiros objetivos”, questionando-se sobre o que “esses objetivos poderiam representar para a segurança do Iraque”.
No Twitter, Qais al-Khazali, líder da milícia Asa’ib Ahl al-Haq, apoiada pelo Irão, escreveu que “os iraquianos vão responder com uma decisão parlamentar para expulsar as forças militares americanas”. “E se elas não saírem, temos a experiência e a capacidade de as remover através de outros métodos, com os quais as suas forças estão familiarizadas”, acrescentou.
Na sequência da série de derrotas que o Daesh sofreu no ano passado, não tem havido violência de larga escala no Iraque. No entanto, cerca de 5.200 soldados americanos treinam e aconselham as forças iraquianas que ainda promovem uma campanha contra o autoproclamado Estado Islâmico.
“Nenhum plano” para retirar do Iraque, diz Trump
Durante a visita, Trump afirmou que não tem “nenhum plano” para retirar as tropas americanas do Iraque. A deslocação acontece depois de o Presidente dos EUA ter anunciado que estava a retirar os soldados americanos da Síria. Foi a primeira visita de Trump às tropas norte-americanas que estão em zonas problemáticas.
Trump reafirmou que pretende levar os soldados que estão na Síria de regresso a casa e explicou que o Iraque pode ser usado como base para realizar ataques a militantes do Daesh. “Em caso de necessidade, podemos atacar o Estado Islâmico tão rápido e com tanta força que eles nem vão perceber o que aconteceu”, disse aos jornalistas.
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