Mais de 80 mil pessoas juntaram-se este domingo para ouvir o último discurso do imperador japonês Akihito antes de abdicar, em abril. Ao completar 85 anos, o imperador disse que retira “profundo consolo” do facto de o seu reinado ter passado sem que o Japão voltasse a entrar em guerra. Emocionado, agradeceu o apoio ao povo e à sua esposa, a imperatriz Michiko.
Akihito é o primeiro monarca vivo a abandonar o Trono do Crisântemo, nome dado ao trono imperial do Japão, em quase dois séculos. O imperador foi submetido a cirurgia cardíaca e ao tratamento de um cancro na próstata. Em abril, o seu filho mais velho, o príncipe herdeiro Naruhito, suceder-lhe-á no trono.
O reinado de três décadas de Akihito é conhecido como a era “Heisei”, que em japonês significa “alcançar a paz”.
Durante o seu breve discurso, o imperador apresentou as suas condolências aos concidadãos que perderam membros da família ou sofreram danos com os sismos, as tempestades severas e as ondas de calor que atingiram o país no último ano.
“É importante não esquecer que inúmeras vidas foram perdidas na II Guerra Mundial”
Embora o seu cargo seja cerimonial e não tenha poder político, Akihito passou grande parte do seu reinado a chamar a atenção para as ações do Japão durante a II Guerra Mundial sob o domínio do seu pai, o imperador Hirohito. Ele lamentou as ações militares do Japão na China e na península coreana, tendo igualmente visitado vários campos de batalha no Pacífico para homenagear os mortos.
“É importante não esquecer que inúmeras vidas foram perdidas na II Guerra Mundial e transmitir essa história com rigor àqueles que nasceram depois da guerra”, dissera antes aos jornalistas.
O imperador afirmou ainda que esperava que o Japão pudesse acolher migrantes ao abrigo de uma nova legislação que permita que mais trabalhadores estrangeiros entrem e ajudem a suprir a escassez de mão-de-obra resultante do envelhecimento da população.
As polémicas do Santuário Yasukuni
Em outubro, o sumo sacerdote do polémico Santuário Yasukuni, que homenageia os 2,5 milhões de mortos da guerra no Japão mas também consagra criminosos condenados da II Guerra Mundial, concordou em resignar depois de ter criticado Akihito, dizendo que o imperador estava a tentar destruir o santuário ao não o visitar.
Alguns políticos de topo, como o primeiro-ministro Shinzo Abe, visitaram o santuário, o que provocou a irritação de muitos críticos, incluindo da China.
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