Internacional

China critica ingerência diplomática na questão de campos para minorias

Rapaz da minoria uigure numa manifestação em Instabul contra os campos de internamento chineses
Rapaz da minoria uigure numa manifestação em Instabul contra os campos de internamento chineses
MURAD SEZER

A China acusou hoje 15 embaixadores estrangeiros de excederem funções diplomáticas ao escreverem uma carta denunciando a prisão de milhares de membros de minorias muçulmanas, como os uigures, em campos de reeducação.

A China acusou hoje 15 embaixadores estrangeiros de excederem funções diplomáticas ao escreverem uma carta denunciando a prisão de milhares de membros de minorias muçulmanas em campos de reeducação.

Organizações não-governamentais, como a Amnistia Internacional, têm vindo a exigir que o Governo chinês admita perante a ONU a existência de campos de internamento ilegais de um milhão de muçulmanos na região de Xinjiang Uighur.

A denúncia sensibilizou vários Governos, que pressionam Pequim para terminar com o que consideram ser uma violação de direitos humanos.
Hoje, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Hua Chuying, disse que será "problemático" se os diplomatas internacionais continuarem a pressionar as autoridades locais na região noroeste de Xinjiang, onde as detenções ocorreram.

"Como embaixadores, eles devem desempenhar um papel positivo na promoção do entendimento mútuo, confiança mútua e cooperação ... ao invés de fazerem pedidos irracionais", disse Hua, referindo-se a uma carta assinada por embaixadores de 15 países.

Para a responsável chinesa pelas relações externas, a carta divulgada esta semana, encabeçada pelo embaixador do Canadá, terá sido apenas baseada em rumores infundados.
Contudo, a missiva fazia referências a relatórios de detenções ilegais, bem como a depoimentos de familiares de pessoas levadas para campos de reeducação naquela região da China.

Os relatos apresentados por organizações não-governamentais falam de campos de detenção onde são impostos castigos ao estilo militar, onde os presos são forçados a renunciar à sua religião e cultura, enquanto juram fidelidade ao Presidente chinês, Xi Jinping, e ao Partido Comunista.

Questionado sobre a carta, o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, disse que esta destaca "as questões e preocupações" do Canadá sobre o tema, já apresentadas na reunião bilateral que teve com o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, à margem da cimeira anual da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), em Singapura.
"O Canadá continuará a procurar formas de promover os direitos humanos em parceria com os nossos aliados em todos os lugares do mundo", disse hoje Trudeau durante uma conferência de Imprensa.
A carta ao governo chinês não foi tornada pública, mas agências internacionais revelam que ela foi assinada por 15 embaixadores ocidentais, incluindo o canadiano, o britânico, o francês, o suíço, o alemão e o australiano.

Os comentários do Governo chinês a esta carta surgem no momento em que um grupo bipartidário de congressistas dos EUA vai pedir ao Presidente Donald Trump para ajudar os muçulmanos chineses a reagir à repressão.

As autoridades chinesas negam a existência de qualquer forma de violação de direitos humanos em campos de internamento, reconhecendo apenas que há "campos de formação" para pessoas que tenham cometido crimes e que tenham sido "influenciados por extremismos".

De acordo com as autoridades chinesas, os prisioneiros são educados em mandarim e submetidas a "educação ideológica, reabilitação psicológica e correção comportamental".
Um relatório do Governo chinês hoje divulgado, intitulado "Proteção e Desenvolvimento da Cultura de Xinjiang", salienta a importância da aprendizagem do mandarim pelos grupos étnicos e refere a sua fé islâmica como "cultura religiosa".

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