Internacional

Jovens marxistas que lutam por direitos laborais na China desaparecidos após detenções

Jovens marxistas que lutam por direitos laborais na China desaparecidos após detenções
Fred Dufour-Pool/Getty Images

A CNN revelou que há uma forte escalada na campanha de Pequim contra o ativismo estudantil nos campus universitários. A repressão intensificou-se em junho, quando um grupo de trabalhadores apelou à formação de um sindicato, pedido recusado pelo Governo. Paradoxalmente, Xi Jinping tem estimulado o país a abraçar as suas raízes marxistas

Jovens marxistas que lutam por direitos laborais na China desaparecidos após detenções

Hélder Gomes

Jornalista

Pelo menos nove jovens ativistas de esquerda, que lutam por mais direitos e mais proteção para os trabalhadores, foram detidos nas principais cidades da China desde agosto. A informação foi avançada esta quarta-feira pela CNN, que fala numa forte escalada na campanha de Pequim contra o ativismo estudantil nos campus universitários.

“Toda a universidade está sob o terror de os guardas virem atrás de nós, mesmo que estejamos apenas no local onde os ativistas distribuem panfletos”, disse um estudante da Universidade de Pequim à estação de televisão norte-americana. De acordo com uma carta aberta amplamente divulgada, na sexta-feira um outro estudante, Zhang Shengye, foi atacado e arrastado por várias pessoas com casacos pretos para dentro de um carro.

Um movimento estudantil de base, liderado por ativistas que se autodenominam marxistas e apelam a mais direitos para os trabalhadores, tornou-se um problema crescente para o Governo chinês nos últimos anos. Sob o comando do Presidente Xi Jinping, as autoridades têm reprimido cada vez mais todas as formas de dissidência, incluindo ativistas de direitos humanos, organizações religiosas e grupos de defesa dos direitos laborais.

A ironia de um Governo socialista reprimir jovens marxistas

Ativistas e analistas não deixam, no entanto, de apontar a ironia de um Governo socialista chinês, liderado pelo Partido Comunista e, por isso, teoricamente pró-operário, reprimir jovens marxistas. Paradoxalmente, Xi Jinping tem estimulado entusiasticamente o país a abraçar as suas raízes marxistas desde que assumiu a direção do partido em 2012.

A repressão crescente remonta a uma disputa no sul da China que começou em junho, quando um grupo de trabalhadores da Jasic Technology de Shenzhen apelou à formação de um sindicato. O Governo recusou o pedido e, após um mês de petições, dezenas de trabalhadores foram detidos pela polícia, segundo o grupo. Outros alegam ter sido espancados pelo pessoal de segurança durante os protestos.

Apesar dos desaparecimentos e ataques dos últimos meses, nem todos os ativistas pensam desistir. No domingo, defensores dos direitos laborais divulgaram uma outra carta aberta pedindo a libertação dos seus antigos membros.

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