Os campos de Xinjiang são centros onde os estudantes recebem “educação e formação vocacionais de acordo com a lei”. Quem o diz é o governador da região autónoma da China, Shohrat Zakir, numa rara e detalhada entrevista à agência oficial de notícias Xinhua, citada esta terça-feira pelo jornal inglês “The Guardian”.
“O objetivo é fundamentalmente eliminar o meio social que gera o terrorismo e o extremismo religioso”, e assim prevenir “as atividades terroristas antes que elas ocorram”, acrescentou o governador de Xinjiang, onde se concentra a maior parte dos uigures, uma minoria étnica muçulmana.
“Campos de concentração” VS centros de “formação vocacional gratuita”
Em agosto, membros do Comité das Nações Unidas para a Eliminação da Discriminação Racial, citando relatórios considerados credíveis, sugeriram que Pequim “transformou a região autónoma dos uigures em algo que se assemelha a um campo de concentração massivo”. A China garantiu que os uigures gozam de plenos direitos, reconhecendo, no entanto, que “aqueles que foram iludidos pelo extremismo religioso são sujeitos a realojamento e reeducação”.
A Amnistia Internacional e a Human Rights Watch, entre outros grupos de defesa dos direitos humanos, apresentaram relatórios ao comité das Nações Unidas documentando alegações de prisões em massa em campos onde os presos são forçados a jurar lealdade ao Presidente da China, Xi Jinping.
O Congresso Mundial Uigure revelou, entretanto, que os detidos são mantidos indefinidamente sem acusação formal e obrigados a gritar slogans do Partido Comunista chinês. Num relatório, este órgão diz ainda que os presos são mal alimentados e que os relatos de tortura são generalizados.
Tudo isto é contradito pelo governador de Xinjiang, província onde estarão detidos cerca de um milhão de muçulmanos. Zakir diz que os residentes dos centros aprendem mandarim “para aceitarem a ciência moderna e melhorarem a sua compreensão da história e da cultura chinesas”. Os alunos frequentam cursos, entre outros, de confeção de roupa e calçado, montagem de aparelhos eletrónicos, cabeleireiro e comércio eletrónico, acrescentou.
“Muitos agora percebem como a vida pode ser colorida”
Os estudantes também recebem formação legal sobre a Constituição chinesa, o código legal da China e os regulamentos locais, de acordo com o governador. Os centros destinam-se a pessoas “influenciadas pelo terrorismo e extremismo” e suspeitas de “pequenos delitos criminais”, que ali recebem “formação vocacional gratuita”.
“Muitos formandos disseram que tinham sido previamente afetados pelo pensamento extremista e que nunca tinham participado em tais atividades artísticas e desportivas. Agora percebem como a vida pode ser colorida”, revelou Zakir, que não referiu, no entanto, o número de formandos ou a duração dos cursos.
Segundo os uigures, os campos destinam-se a substituir na próxima geração a sua identidade pela identidade chinesa. Na semana passada, Pequim, que sempre negou as acusações, reconheceu e autorizou a existência destes campos como parte do esforço do Governo chinês no combate ao extremismo religioso.
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