Donald Trump prometeu e agora os norte-coreanos querem que ele cumpra. A página “The Vox” falou com várias pessoas com conhecimento da conversa mantida entre o Presidente dos Estados Unidos e Kim Jong-un, líder da Coreia do Norte, quando ambos se encontraram em Singapura em junho, e todas confirmaram que Trump prometeu que assinaria, poucos dias depois, um Tratado de Paz entre as duas Coreias.
Ora, apesar de não haver confronto armado, a Coreia do Sul e a Coreia do Norte ainda estão tecnicamente em guerra já que a única coisa assinada é o armistício de 1953, que abriu uma trégua na Guerra da Coreia, um conflito que matou mais de cinco milhões de pessoas.
Mas, desde que os dois líderes se encontraram, a Administração Trump tem repetido que, antes que isso possa acontecer, Pyongyang tem que desmantelar o seu arsenal nuclear. É possivelmente esta a razão que levou ao retomar das hostilidades entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte, isto apesar de as relações não terem ainda regressado aos dias em que Kim chamava “lunático” a Trump e Trump apelidava Kim de “homenzinho dos mísseis”.
“Faz algum sentido que os norte-coreanos estejam zangados. Trump prometeu-lhes uma declaração de paz e depois muda os postes da baliza e torna isso uma coisa condicionada a decisões do outro lado. Isto foi visto como uma renúncia dos Estados Unidos em fazer o que prometeram”, disse uma das fontes à “The Vox”.
Uma outra pessoa sublinhou que Trump fez a mesma promessa a Kim Yong Chol, um dos homens mais próximos de Kim, enviado à Casa Branca no dia 1 de junho, a 11 dias da conferência.
Negociações pararam porquê?
Os sinais de que as negociações estão a caminhar por terrenos pantanosos não são muitos - mas são significativos. Na segunda semana de agosto, Donald Trump cancelou a viagem que Mike Pompeu tinha organizado à Coreia do Norte, admitindo, pela primeira vez, através do Twitter, que as negociações não estavam a correr como o esperado. Depois, o secretário de Estado da Defesa, James Mattis, disse que os exercícios militares com a Coreia do Sul, aos quais o Norte se opõe, estavam apenas suspensos.
Como escreve a “The Atlantic”, Trump não culpou a Coreia do Norte pelos atrasos na desnuclearização. Culpou, antes, a China que não estará a fazer tudo o que pode para “estrangular” a Coreia do Norte já que continua a ser o seu principal parceiro comercial, e de quem os norte-coreanos dependem inteiramente para acesso a bens essenciais como energia e, até, alimentos.
Depois do encontro entre Donald Trump e Kim Jong-un, até parecia que a Coreia do Norte estava, de facto, a fazer o prometido. Foram mostradas imagens da destruição de um dos sítios onde os mísseis balísticos eram testados, mas imagens de satélite, avaliações das agências de informações norte-americanas e, mais recentemente, um parecer da Agência Internacional de Energia Atómica mostram que o desenvolvimento do programa nuclear está em curso.
No acordo que os dois líderes assinaram em Singapura, de facto os dois artigos sobre o estabelecimento de uma paz oficial entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul vêm escritos antes daqueles que se focam na desnuclearização. Mas Mike Pompeo tem pedido, e insistido que o Norte reduza entre 60% e 70% o número de ogivas nucleares nos próximos seis a oito meses.
Para que é que Kim quer o Acordo de Paz?
Quando a Guerra começou, os Estados Unidos decidiram intervir pelo Sul e a China acabou por ir defender o Norte. Desde então, os Estados Unidos são inimigos declarados da Coreia do Norte e tudo o que parecer uma capitulação não será aceite por ninguém.
Na mensagem de Ano Novo, Kim disse que o seu foco era o de começar a reavivar a economia do país, mas para isso será necessário que o tal acordo de paz seja assinado. Assim, haveria uma proteção política para abandonar o seu arsenal - ou parte dele - e poder voltar a negociar com alguns países. É isto que dizem os especialistas com os quais a “The Vox” falou.
“Kim, em particular, acredita que precisa de uma declaração de paz para evitar as críticas das suas cúpulas militares”, disse um membro do Exército sul-coreano à “The Atlantic”.