“Todos podem fazer a guerra, mas só os mais corajosos podem fazer a paz”, afirmou Donald Trump numa conferência de imprensa em Singapura, após a assinatura do acordo de desnuclearização com o líder norte-coreano Kim Jong-un. “Se tiver de dizer que me sento num palco com o Líder Kim e isso que isso nos permite salvar 30 milhões de vidas, talvez mais, estou disposto a sentar-me nesse palco, estou disposto a viajar até Singapura, com muito gosto”, disse também.
“Passámos horas intensas juntos”, contou o Presidente norte-americano, agradecendo o que considera ser a coragem do líder norte-coreano. “A mudança é possível. Tivemos um reunião honesta, direta e produtiva. Conhecemo-nos e estamos dispostos a começar um novo episódio da história dos nossos países.”
Ainda antes da conferência de imprensa, foi emitido um vídeo de alguns minutos onde se veem mísseis “em marcha-atrás” a regressar à base, num vídeo a andar ao contrário. Em imagens captadas por satélite vê-se a Coreia do Norte a iluminar-se, ao jeito de um trailer de Hollywood, em que se entrega a esperança e o destino do mundo a dois homens: Donald Trump e Kim Jong-un.
Questionado sobre a razão de o filme ter sido emitido no início da conferência de imprensa, Trump declarou: “Espero que tenham gostado, achei interessante mostrá-lo, na versão inglesa e coreana. Mostrei-o hoje [a Kim], durante a reunião e acho que ele adorou. E mostrei-lho porque pode muito bem representar aquilo que será o futuro”.
A guerra que (ainda) não acabou
Trump recordou que a guerra entre as Coreias (1950-53) nunca terminou (houve armistício, mas nunca um tratado de paz). “Vai acabar em breve”, prometeu. “O passado não tem de definir o futuro, o conflito de ontem não tem de ser uma guerra amanhã”, foram as palavras escolhidas criteriosamente pelo americano para reafirmar o êxito do encontro em Singapura, que durou cerca de 40 minutos.
“O general Kim disse-me que a Coreia do Norte já está a destruir um lugar de testes de mísseis”, disse Trump em primeira mão. “É o início de um processo, a paz vale sempre a pena. Isto deveria ter sido feito há muito tempo, mas vamos resolvê-lo agora.”
Direitos humanos ficam para mais tarde
Inspetores internacionais e norte-americanos vão estar na Coreia do Norte a acompanhar o processo de desnuclearização, garantiu o líder dos EUA, acrescentando ainda que a Coreia do Norte quer tanto honrar este acordo como os americanos: “Acredito que Kim vai respeitar o acordo”.
Trump aproveitou para falar dos soldados americanos, indicando que a sua intenção é que “regressem a casa”. “Os que estão na Coreia do Sul ainda não vão voltar, mas esperamos que venha a acontecer. É um grande custo e uma provocação...” Referiu-se também aos combatentes que morreram na guerra de há 65 anos: “Recebi chamadas, tweets e cartas incontáveis a pedir os restos mortais das vítimas da guerra”, disse ainda, manifestando a vontade de honrar essa vontade.
O líder americano reconheceu que durante a reunião com Kim Jong-un foi abordado o tema dos direitos humanos, mas que ambos voltarão ao assunto no futuro. “Kim é muito inteligente, bom negociador e quer fazer as coisas certas”, reforçou, em resposta às perguntas dos jornalistas. Recordou ter convidado Kim Jong-un para visitar a Casa Branca. Aquele aceitou e irá a Washington “na altura apropriada”.
O Presidente americano reconheceu a existência de uma situação dura na Coreia do Norte (humana, de condições de vida e direitos humanos). “Vamos fazer algo, é complicado, mas vamos continuar e chegaremos a um acordo.” Quanto às sanções impostas a Pyongyang, só serão levantadas quando houver certezas do fim da ameaça nuclear. “Estou ansioso por levantá-las”, garantiu.
Fim dos exercícios com Seul?
O Presidente dos EUA lançou farpas à anterior Administração (e às anteriores) ao afirmar que este acordo deveria ter acontecido “há 25 anos”. Interrogado por jornalistas sobre o acordo que, em 1992, a então secretária de Estado Madeleine Albright — durante a administração de Bill Clinton — firmou com o pai de Kim Jong-un, Kim Jong-il, Trump desprezou-o: “Gastaram 3000 milhões de dólares sem obter nada em troca”.
Trump falou dos exercícios militares regulares que os Estados Unidos mantêm com a Coreia do Sul, e que muito irritam o Norte. “Acho impróprio termos jogos de guerra”, referiu, defendendo que devem acabar por serem muito dispendiosos. O jornal “The Washington Post” dá como certo que as manobras conjuntas têm os dias contados.