A Amnistia Internacional (AI) acusa o Governo da Nicarágua de conluio com grupos paramilitares para reprimir as manifestações contra o Presidente Daniel Ortega. Num relatório divulgado esta terça-feira, a AI refere que os grupos usaram armas semiautomáticas e coordenaram os ataques com as forças de segurança.
Os protestos começaram em abril quando Ortega aprovou cortes nas pensões e na Segurança Social. O chefe de Estado revogaria os seus planos, mas as manifestações transformaram-se rapidamente num símbolo da rejeição à sua administração. Cerca de 80 pessoas morreram até agora nos protestos.
Segundo o relatório, os grupos armados são frequentemente formados por estudantes e motociclistas pró-Governo, por vezes identificáveis por roupas que os ligam às autoridades. “Esses grupos parecem estar a agir com a anuência do Estado, como é demonstrado, em primeiro lugar, pelo facto de a maioria dos ataques ser cometida por particulares na presença ou em coordenação com as forças de segurança. Em segundo lugar, pelo facto de a polícia não perseguir os responsáveis depois de os crimes serem cometidos, antes permitindo que eles fujam do local e se dispersem”, revela o documento.
Execuções extrajudiciais
A possibilidade de execuções extrajudiciais já tinha sido levantada num relatório da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), órgão independente da Organização dos Estados Americanos. Mas o relatório da AI vai mais longe ao sugerir que a estratégia de repressão mortal foi levada a cabo com o conhecimento do Presidente Ortega.
No início de maio, a CIDH visitou a Nicarágua e concluiu que houve graves violações dos direitos humanos durante os protestos, caracterizados pelo uso excessivo da força pelos agentes de segurança do Estado e por terceiros armados. O Governo respondeu estabelecendo uma comissão para investigar as mortes dos manifestantes.
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