O Presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, descartou este domingo as mudanças na Segurança Social que provocaram violentos protestos em todo o país desde quarta-feira. Em discurso na televisão nacional, Ortega renovou os pedidos para que o setor privado se envolva em negociações. No entanto, líderes empresariais afirmam que só vão negociar quando o Governo parar a “repressão contra os protestos”.
Pelo menos 25 pessoas morreram e mais de 100 pessoas ficaram feridas desde que pensionistas e estudantes foram para as ruas a meio da semana passada. Entre as baixas encontram-se dois manifestantes e um polícia que foram mortos na capital, Manágua, na sexta-feira.
Os manifestantes acusam a polícia de choque e as tropas espalhadas pelo país da autoria da maior parte da violência. Este é o maior desafio enfrentado por Ortega, o ex-líder rebelde sandinista no poder desde 2007.
“A resolução anterior, de 16 de abril de 2018, que foi a resolução que deu início a toda esta situação, está a ser revogada, cancelada, deixada de lado”, disse o Presidente. A questão das reformas da Segurança Social será debatida novamente quando a situação na Nicarágua estiver normalizada, acrescentou Ortega.
A legislação da discórdia, aprovada na quarta-feira, aumenta as contribuições de trabalhadores e empregadores para as pensões e reduz os benefícios gerais em 5%.
Após quatro dias de distúrbios, o Presidente da Nicarágua dirigiu-se à nação, pela primeira vez, no sábado para pedir negociações. “Se nas negociações encontrarmos uma maneira melhor de realizar estas reformas, este decreto pode ser alterado ou substituído por um novo”, afirmou.
A situação no país da América Central levou o Papa Francisco a lançar este domingo um apelo, após a recitação da oração pascal do ‘Regina Coeli’. “Estou muito preocupado com o que está a acontecer nestes dias, na Nicarágua, onde depois de um protesto social se verificaram confrontos, que causaram também algumas vítimas”, afirmou o Papa a partir da janela do apartamento pontifício, na Praça de São Pedro, no Vaticano.
“Uno-me aos bispos para pedir que cesse toda a violência, que se evite um inútil derramamento de sangue e que se resolvam pacificamente as questões abertas, com sentido de responsabilidade”, acrescentou o Papa.
Daniel Ortega já acusou partes da oposição de incitar a violência e conspirar para derrubar o seu governo de esquerda. Vários canais foram retirados do ar por estarem a cobrir os protestos. Um dos incidentes mais graves foi a morte a tiro de um jornalista enquanto fazia uma transmissão ao vivo: Ángel Gahona estava a falar sobre danos num banco na cidade caribenha de Bluefields quando uma bala o atingiu durante o seu noticiário no Facebook Live.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: hgomes@expresso.impresa.pt