“A França decidiu apoiar Luis De Guindos, porque acreditados que ele será o homem certo para o lugar certo”, disse o ministro francês das Finanças, Bruno le Maire, à entrada para a reunião desta segunda-feira. Le Maire falava pouco tempo depois de o homólogo irlandês ter vindo dizer aos jornalistas que, afinal, retirava a candidatura do Governador do Banco da Irlanda à corrida ao BCE.
"Confirmo que não vou avançar com a sua candidatura (de Philip Lane) à votação desta tarde", disse Pascal Donohoe, justificando a decisão com a importância de o Vice-Presidente do BCE ser escolhido "por consenso". Sem o irlandês na corrida, caiu por terra qualquer confronto de candidaturas ou votação, abrindo a porta à "aclamação" do espanhol.
Nos últimos dias, a possibilidade de a Irlanda recuar tinha sido falada, até porque De Guindos era apontado como favorito, reunindo a maioria de apoios. A Irlanda desistiu e facilitou a escolha do espanhol.
"Falei com o ministro De Guindos, desejando-lhe a toda a sorte para esta tarde", disse ainda Donohoe e foi mais longe no fair play. "Acredito que o ministro De Guindos, se escolhido hoje, fará um trabalho excelente".
E, de facto, a escolha foi feita. "O Eurogrupo deu hoje apoio à candidatura de Luis de Guindos para o lugar de Vice-Presidente do Banco Central Europeu", deixou claro um comunicado, emitido a meio da tarde e ainda com os ministros dentro da sala.
"O BCE é a instituição mais importante dentro da União Monetária. Para mim logicamente é um grande desafio", disse Luis de Guindos aos jornalistas após a confirmação. "Enfrento-o com humildade e vontade de aprender, de defender a sua independência, como sempre fiz e estou convencido que será o que sempre farei", acrescentou.
Formalmente, o apoio terá ainda de passar pela reunião de amanhã do ECOFIN - reunião dos 28 ministros das Finanças - para ser "adotado formalmente". Uma recomendação que segue depois para a reunião de chefes de Estado e de Governo de 22 e 23 de março. Nessa altura, e depois de ouvirem o BCE e o Parlamento Europeu, os líderes deverão confirmar e nomear finalmente De Guindos.
É uma vitória para Espanha, que consegue um lugar no topo do BCE. E para De Guindos, que há dois anos e meio tinha tentado a Presidência do Eurogrupo, mas as os colegas da Moeda Única preferiram dar o cargo a Jeroen Disselbloem, que entretanto passou a cadeira a Centeno.
Um político no BCE
De Guindos voltará agora a ser ouvido pelos eurodeputados e desta vez numa sessão pública. Na semana passada, falou na Comissão dos Assuntos Económicos do Parlamento Europeu (ECON), mas à porta fechada, e não convenceu totalmente os interlocutores.
"A maioria dos grupos políticos (do Parlamento Europeu) considera que o desempenho do Governador Lane foi mais convincente", disse na altura em comunicado o presidente da ECON. Roberto Gualtieri, adiantava ainda que "alguns grupos expressaram reservas sobre a nomeação do Ministro De Guindos".
A primeira opinião do Parlamento Europeu não era vinculativa, e a decisão acabou por ser totalmente dos ministros, que são aliás colegas do espanhol nas reuniões do Eurogrupo e do Ecofin.
"Luis de Guindos tem todas as capacidades para ser um vice-presidente do BCE muito bom", defendeu Bruno Le Maire, adiantando que não se está "a pisar qualquer linha vermelha" por se optar por um político para um cargo habitualmente atribuído a personalidades ligadas à banca. Vitor Constâncio era governador do Banco de Portugal antes de ir para a Vice-Presidência do BCE. Mas foi também ministro das Finanças.
"As suas qualificações e experiência como ministro permitem-lhe fazer bem o trabalho", reconheceu ainda o ministro irlandês. Também o Comissário para os Assuntos Económicos, Pierre Moscovici, saiu em defesa do espanhol.
"Os políticos são pessoas que têm muita experiência e trabalharam em determinados dossiers, e que têm a capacidade de aprender", argumentou ao início da tarde. Diz que De Guindos, há seis anos no cargo de ministro da Economia, "tem lutado pelo sistema bancário espanhol", rematando que o seu perfil "é aceite por aqueles que têm de nomeá-lo". E a escolha está feita.
Vitor Constâncio deixa a cadeira de Vice no final de maio. Se não houver imprevistos, De Guindos assume funções a 1 de junho. E diz que nos próximos dias apresenta a demissão da pasta da Economia espanhola.