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De Guindos, um político no Banco Central Europeu

De Guindos, um  político no Banco Central Europeu
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Ministros das Finanças da Moeda Única confirmam apoio a Luís de Guindos para substituir Vitor Constâncio. Uma decisão política que justificam com a “experiência” do ministro espanhol. Desta vez, Luis De Guindos não tem por que se queixar de falta de apoio no Eurogrupo. O ministro espanhol da Economia teve os colegas da Moeda Única a seu lado e o caminho aberto para suceder a VÍtor Constâncio na vice-presidência do Banco Central Europeu (BCE)

De Guindos, um  político no Banco Central Europeu

Susana Frexes

Correspondente em Bruxelas

“A França decidiu apoiar Luis De Guindos, porque acreditados que ele será o homem certo para o lugar certo”, disse o ministro francês das Finanças, Bruno le Maire, à entrada para a reunião desta segunda-feira. Le Maire falava pouco tempo depois de o homólogo irlandês ter vindo dizer aos jornalistas que, afinal, retirava a candidatura do Governador do Banco da Irlanda à corrida ao BCE.

"Confirmo que não vou avançar com a sua candidatura (de Philip Lane) à votação desta tarde", disse Pascal Donohoe, justificando a decisão com a importância de o Vice-Presidente do BCE ser escolhido "por consenso". Sem o irlandês na corrida, caiu por terra qualquer confronto de candidaturas ou votação, abrindo a porta à "aclamação" do espanhol.

Nos últimos dias, a possibilidade de a Irlanda recuar tinha sido falada, até porque De Guindos era apontado como favorito, reunindo a maioria de apoios. A Irlanda desistiu e facilitou a escolha do espanhol.

"Falei com o ministro De Guindos, desejando-lhe a toda a sorte para esta tarde", disse ainda Donohoe e foi mais longe no fair play. "Acredito que o ministro De Guindos, se escolhido hoje, fará um trabalho excelente".

E, de facto, a escolha foi feita. "O Eurogrupo deu hoje apoio à candidatura de Luis de Guindos para o lugar de Vice-Presidente do Banco Central Europeu", deixou claro um comunicado, emitido a meio da tarde e ainda com os ministros dentro da sala.

"O BCE é a instituição mais importante dentro da União Monetária. Para mim logicamente é um grande desafio", disse Luis de Guindos aos jornalistas após a confirmação. "Enfrento-o com humildade e vontade de aprender, de defender a sua independência, como sempre fiz e estou convencido que será o que sempre farei", acrescentou.

Formalmente, o apoio terá ainda de passar pela reunião de amanhã do ECOFIN - reunião dos 28 ministros das Finanças - para ser "adotado formalmente". Uma recomendação que segue depois para a reunião de chefes de Estado e de Governo de 22 e 23 de março. Nessa altura, e depois de ouvirem o BCE e o Parlamento Europeu, os líderes deverão confirmar e nomear finalmente De Guindos.

É uma vitória para Espanha, que consegue um lugar no topo do BCE. E para De Guindos, que há dois anos e meio tinha tentado a Presidência do Eurogrupo, mas as os colegas da Moeda Única preferiram dar o cargo a Jeroen Disselbloem, que entretanto passou a cadeira a Centeno.

Um político no BCE

De Guindos voltará agora a ser ouvido pelos eurodeputados e desta vez numa sessão pública. Na semana passada, falou na Comissão dos Assuntos Económicos do Parlamento Europeu (ECON), mas à porta fechada, e não convenceu totalmente os interlocutores.

"A maioria dos grupos políticos (do Parlamento Europeu) considera que o desempenho do Governador Lane foi mais convincente", disse na altura em comunicado o presidente da ECON. Roberto Gualtieri, adiantava ainda que "alguns grupos expressaram reservas sobre a nomeação do Ministro De Guindos".

A primeira opinião do Parlamento Europeu não era vinculativa, e a decisão acabou por ser totalmente dos ministros, que são aliás colegas do espanhol nas reuniões do Eurogrupo e do Ecofin.

"Luis de Guindos tem todas as capacidades para ser um vice-presidente do BCE muito bom", defendeu Bruno Le Maire, adiantando que não se está "a pisar qualquer linha vermelha" por se optar por um político para um cargo habitualmente atribuído a personalidades ligadas à banca. Vitor Constâncio era governador do Banco de Portugal antes de ir para a Vice-Presidência do BCE. Mas foi também ministro das Finanças.

"As suas qualificações e experiência como ministro permitem-lhe fazer bem o trabalho", reconheceu ainda o ministro irlandês. Também o Comissário para os Assuntos Económicos, Pierre Moscovici, saiu em defesa do espanhol.

"Os políticos são pessoas que têm muita experiência e trabalharam em determinados dossiers, e que têm a capacidade de aprender", argumentou ao início da tarde. Diz que De Guindos, há seis anos no cargo de ministro da Economia, "tem lutado pelo sistema bancário espanhol", rematando que o seu perfil "é aceite por aqueles que têm de nomeá-lo". E a escolha está feita.

Vitor Constâncio deixa a cadeira de Vice no final de maio. Se não houver imprevistos, De Guindos assume funções a 1 de junho. E diz que nos próximos dias apresenta a demissão da pasta da Economia espanhola.

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