Internacional

Adensa-se o braço de ferro entre a administração Trump e o FBI

Adensa-se o braço de ferro entre a administração Trump e o FBI
Alex Wong

Em causa está um memorando do Partido Republicano no qual a agência federal e o Departamento de Justiça são acusados de abusar dos seus poderes de vigilância contra a campanha de Donald Trump, no âmbito das investigações ao alegado conluio entre a equipa do Presidente e a Rússia

O FBI deu, na quarta-feira, o passo raro de criticar a decisão de alguns legisladores do Congresso em divulgar um documento secreto compilado pelo Partido Republicano no qual a agência federal é acusada de abusar dos seus poderes de vigilância e monitorização contra a campanha presidencial de Donald Trump.

"Temos grandes preocupações sobre as omissões materiais de factos que têm um impacto profundo no rigor deste memorando", disse um porta-voz do FBI em comunicado, num momento em que se antecipa a sua publicação já esta quinta-feira.

Para os democratas, o documento, cuja divulgação iminente foi aprovada pelos republicanos da comissão de serviços de informação da Câmara dos Representantes, representa mais uma tentativa do partido no poder para tirar crédito às investigações que o FBI tem em marcha ao alegado conluio entre a equipa de campanha de Trump e a Rússia de Vladimir Putin durante a corrida à Casa Branca em 2016.

Adam Schiff, democrata que integra essa comissão, acusa os republicanos de terem alterado o conteúdo do memorando depois de ter sido aprovado e já veio exigir que seja revisto antes de ser tornado público. Para que isso aconteça, é necessária a aprovação da Casa Branca. Esta quarta-feira, em entrevista à Fox News, o chefe de gabinete de Trump, o general John Kelly, garantiu que o documento "será divulgado muito em breve" para que "todo o mundo" possa saber o que nele é dito.

O que diz o memorando?

O documento tem quatro páginas e foi compilado por membros da comissão atualmente dirigida pelo republicano lusodescendente Devin Nunes. Segundo fontes, nele o Departamento de Justiça e o FBI são acusados de abusar do seu programa de vigilância de cidadãos, conhecido como FISA, durante a corrida presidencial.

Em particular, é alegado que o FBI monitorizou um elemento da campanha do agora Presidente e que obteve um mandado de espionagem para manter esse assessor debaixo de olho com base em acusações "sem provas" contra Donald Trump, contidas no chamado 'dossiê Steele' — da autoria de um ex-espião britânico do MI6, Christopher Steele, que primeiro foi pago por um republicano que queria travar a candidatura presidencial do empresário Trump e depois pelos democratas.

Depois da votação de segunda-feira para que o memorando seja publicado, Trump tem até ao fim de semana para decidir se dá aval a essa divulgação. Tudo aponta que assim será: na terça à noite, logo a seguir ao seu primeiro discurso sobre o Estado da União, o Presidente terá dito a um legislador republicano que defende "a 100%" que o documento chegue ao público.

Na quarta-feira, na entrevista à Fox News, Kelly sublinhou que o Presidente quer "tudo cá fora para que o povo americano possa decidir por si e para que se responsabilizem as pessoas que devem ser responsabilizadas".

Reação do FBI

Num comunicado ("raro", segundo vários analistas), a agência federal sublinhou ontem que teve "uma oportunidade limitada" para rever o documento antes da votação da comissão na segunda-feira, na qual foi decidido que o memorando deve ser divulgado.

"Estamos empenhados em trabalhar com as entidades de supervisão apropriadas para garantir a contínua integridade do processo FISA", sublinhou o FBI. O Departamento de Justiça acrescentou que será "extraordinariamente imprudente" avançar com a publicação dos papéis.

A administração Trump defende que estes provam o que o próprio Presidente tem vindo a alegar há muito, sobre estar a ser "tratado de forma injusta" pelo FBI no âmbito de inquéritos que classifica como uma "caça às bruxas".

Devin Nunes, que integrou a equipa de transição para a Casa Branca de Trump, diz que "não é nenhuma surpresa" que o FBI seja contra a divulgação do memorando. "Depois de ter bloqueado as exigências do Congresso por mais informação durante quase um ano, não é surpreendente que o FBI e o Departamento de Justiça objetem ilegitimamente que o povo americano veja a informação relacioanda com os abusos de vigilância cometidos por estas agências."

Depois de ter passado a campanha presidencial a desmentir as agências de informação do país quando estas apresentaram as primeiras provas de que a Rússia interferiu no processo eleitoral, Donald Trump despediu o diretor da agência, James Comey, em maio do ano passado, por este se ter recusado a suspender um dos inquéritos ao conluio com a Rússia.

Entretanto, soube-se que, na altura, o Presidente perguntou a Andrew McCabe, que ocupou a liderança interina da agência após o afastamento de Comey, em quem é que ele tinha votado. O número dois do FBI foi forçado a demitir-se em janeiro perante alegações da presidência sobre o seu preconceito a favor de Hillary Clinton, dois meses antes de se reformar. Em dezembro, Trump já tinha exigido lealdade ao vice-procurador-geral dos EUA, Rod Rosenstein, num pisar da linha que garante a independência das agências de informação face ao poder executivo.

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