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Venezuela. Próximas presidenciais não terão oposição

Apoiante da oposição ao Presidente da Venezuela Nicolás Maduro descansa enquanto outros manifestantes bloqueiam uma rua em Altamira, Caracas
Apoiante da oposição ao Presidente da Venezuela Nicolás Maduro descansa enquanto outros manifestantes bloqueiam uma rua em Altamira, Caracas

Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, vai banir a oposição de participar nas próximas eleições presidenciais do país. É a ‘paga’ por terem ‘ousado’ boicotar as eleições municipais que se realizaram por todo o país este domingo e mais uma prova de que Maduro está empenhado em apertar cada vez mais o pulso à volta do poder

Venezuela. Próximas presidenciais não terão oposição

Ana França

Jornalista da secção Internacional

Nicolás Maduro, Presidente da Venezuela, vai proibir alguns dos principais partidos da oposição de participarem nas eleições presidenciais de 2018 e que apenas aqueles que participaram nas eleições municipais do passado domingo terão lugar em boletins futuros.

Assim o determinou a Assembleia Constituinte, um órgão soberano instaurado por Maduro contra a vontade da oposição em agosto passado e que de facto substituiu o Parlamento, onde a aposição era maioritária. "Partido que não tenha participado hoje e que tenha instado ao boicote das eleições não pode participar mais nelas. É essa a decisão dos membros da Assembleia Nacional Constituinte e eu apoio-os", disse Maduro ao lado de Delcy Rodríguez, presidente da Constituinte. Já Diosdado Cabello, um dos mais poderosos homens de Maduro, acrescentou que "os partidos não podem pedir a abstenção porque isso vai contra a sua razão de ser".

Três dos maiores partidos da oposição - Justiça Primeiro, Vontade Popular e Ação Democrática - decidiram não participar na eleição de domingo por considerarem o sistema eleitoral em vigor na Venezuela um sistema corrupto e enviesado, que favorece os socialistas de Maduro. A oposição acusa o governo de roubar votos não só literalmente como também através, por exemplo, da não-colocação de urnas nos bairros conhecidos pela sua concentração de oposicionistas. Dado o colapso económico do país, Maduro é também acusado de utilizar a escassez de alimentos para "comprar" votos, oferecendo senhas de comida aos seus apoiantes. Maduro, por outro lado, diz que o sistema é perfeitamente fidedigno e que a solução, se não for o voto, só pode ser a guerra, coisa que ele acusa a oposição de querer encetar.

O partido socialista de Maduro anunciou uma "vitória esmagadora" no domingo, tendo conquistado 41 das 42 câmaras municipais, de acordo com os primeiros resultados divulgados pela agência Associated Press. A mesma notícia nota, contudo, que a abstenção ultrapassou os 50% e que poucas pessoas foram vistas a votar mesmo nas principais cidades.

As eleições acontecem num dos piores momentos da história recente da Venezuela, em que a inflação impossibilita que a maioria dos venezuelanos adquiram até os elementos mais básicos para a sua alimentação e em que a escassez de medicamentos tem causado um ressurgimento de doenças há muito erradicadas. As principais figuras da oposição continuam afastadas à força da arena política e os protestos que ocuparam a capital, Caracas, durante o último verão fizeram pelos menos 120 mortos.

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