Os requerentes de asilo que passaram as últimas três semanas a combater a sua antecipada expulsão de um centro de detenção em Manus, na Papua Nova Guiné, foram todos transferidos para um novo centro na ilha, confirmou esta sexta-feira o governo australiano. O grupo estava a resistir à mudança há quase um mês, depois de o centro ter sido encerrado a mando do Supremo Tribunal da Papua Nova Guiné.
Autocarros foram avistados esta manhã a abandonarem o centro com cerca de 300 refugiados, após a polícia local ter entrado nas instalações pela segunda vez esta semana. Os detidos garantem que as autoridades agrediram alguns deles com bastões. Vídeos partilhados nas redes sociais mostram agentes da polícia a ameaçar espancá-los.
À BBC, um refugiado confirmou esta sexta-feira que "toda a gente" já abandonou o centro de Manus. "Eles não queriam mas espancaram-nos." Em resposta às alegações de violência, o ministro australiano da Imigração, Peter Dutton, falou numa versão "inexata e exagerada" da realidade. A polícia australiana veio por sua vez garantir que não esteve envolvida na operação.
Na quinta-feira, o comissário da polícia da Papua Nova Guiné, Gari Baki, tinha assegurado que a retirada dos requerentes de asilo estava a ser conduzida "de forma pacífica e sem recurso à força". No mesmo dia, a agência da ONU para os Refugiados (ACNUR) disse estar preocupada com as notícias de remoções forçadas, embora tenha sublinhado que não tem como verificar as alegações de forma independente porque lhe foi negado acesso ao local.
Anteriormente, o ACNUR já tinha confirmado que todos os que a Austrália mantinha detidos na ilha de Manus têm estatuto de refugiados. Sob uma controversa lei de imigração, Camberra tem usado Manus e também Nauru, uma pequena ilha-nação do Pacífico, para manter ali detidos todos os que pedem asilo à Austrália.
Na terça-feira, o comissariado da ONU para os Refugiados já tinha alertado para o facto de as novas instalações de acolhimento ainda estarem "a serem construídas", razão pela qual ainda não garantem "os mais básicos serviços" essenciais, como acesso a cuidados de saúde.
Esta sexta-feira de manhã, Dutton garantiu que os cerca de 600 homens que passaram o último mês barricados no centro de Manus foram levados para centros de trânsito "seguros" onde terão acesso a comida e serviços médicos. O ministro também pediu aos ativistas de Direitos Humanos que "desistam da falsa esperança de que estes homens sejam algum dia levados para a Austrália".
Segundo Camberra, todos eles podem optar por pedir asilo permanente na Papua Nova Guiné ou no Camboja ou, pelo contrário, escolher pedir transferência para o centro de detenção de Nauru. Os EUA já se comprometeram a acolher até 1250 refugiados das duas ilhas onde a Austrália mantém centros de detenção de requerentes de asilo, mas há dúvidas quanto ao total de pessoas que obterão de facto asilo no país.
Entretanto, a oferta da Nova Zelândia de acolher 150 dos refugiados retirados de Manus foi rejeitada pelo governo de Malcolm Turnbull sob o argumento de que o país iria ser usado como "porta dos fundos" para a Austrália.
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