“Pelo menos uma menina de nove anos e várias outras com idades inferiores a dez anos” foram vítimas de agressão sexual ou violação. Todas são rohingya e receberam tratamento nos campos de refugiados no Bangladesh, junto à fronteira com Myanmar. A denúncia é feita pelos Médicos Sem Fronteiras, que asseguram que cerca de metade das pessoas atendidas por elementos da ONG, vítimas de violência sexual, são crianças.
Só à unidade do campo de refugiados de Kutupalong, na cidade Cox’s Bazar, no sul do Bangladesh, chegaram dezenas de jovens, que precisaram de acompanhamento médico e psicológico. “Cerca de 50% não têm mais de 18 anos”, refere o porta-voz dos Médicos Sem Fronteiras, citado pelo “The Guardian”.
As violações acontecem, por norma, após os ataques às aldeias. Os militares separaram as mulheres e “escolhem as mais bonitas”, que são depois levadas. “Chorei quando levaram a minha irmã mais nova, mas não podia fazer nada. Quando pararam e se foram embora, fui à procura dela. Não sabia se estava viva ou morta, mas encontrei-a a respirar. Esta a sangrar tanto que a lavei no rio e a levei para um centro médico”, relatou uma mulher de 27 anos ao jornal britânico. Mais tarde, soube que a irmã tinha sido violada por dois soldados e um civil.
Os dados apresentados pelos Médicos Sem Fronteiras são apenas uma parte das vítimas de violência sexual, pois muitas não chegam a receber qualquer tipo de tratamento. “As mulheres e meninas não procuram com frequência cuidados médicos para a violência sexual por causa do estigma associado, por vergonha e por medo de serem culpadas do que lhes aconteceu”, diz Aerlyn Pfeil, dos Médicos Sem Fronteiras, que está integrada nas equipas do campo de refugiados de Kutupalong.
Segundo a Humans Right Watch, perto de 600 mil rohingya fugiram de Myanmar (antiga Birmânia) para o Bangladesh desde o final de agosto, quando o exercito birmanês começou “uma operação de limpeza” no seguimento de um ataque levado a cabo por um grupo rebelde rohingya.
Esta minoria muçulmana vive concentrada há vários anos em Rakhine, na costa ocidental de Myanmar. O país não reconhece a cidadania aos rohingya e impôs-lhes severas restrições, incluindo a privação de liberdade de movimentos. Desde agosto que nenhum jornalista ou membro de organizações internacionais humanitárias foi autorizado a aceder ao estado de Rakhine.
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