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Médicos Sem Fronteiras denunciam violência sexual contra crianças rohingya

Médicos Sem Fronteiras denunciam violência sexual contra crianças rohingya
TAUSEEF MUSTAFA/ Getty images

Na semana passada, uma menina de nove anos procurou tratamento médico depois de ter sido violada. Segundo a organização humanitária, “cerca de 50%” das vítimas de violência sexual que são acompanhadas “não têm mais de 18 anos”

Médicos Sem Fronteiras denunciam violência sexual contra crianças rohingya

Marta Gonçalves

Coordenadora de Multimédia

Pelo menos uma menina de nove anos e várias outras com idades inferiores a dez anos” foram vítimas de agressão sexual ou violação. Todas são rohingya e receberam tratamento nos campos de refugiados no Bangladesh, junto à fronteira com Myanmar. A denúncia é feita pelos Médicos Sem Fronteiras, que asseguram que cerca de metade das pessoas atendidas por elementos da ONG, vítimas de violência sexual, são crianças.

Só à unidade do campo de refugiados de Kutupalong, na cidade Cox’s Bazar, no sul do Bangladesh, chegaram dezenas de jovens, que precisaram de acompanhamento médico e psicológico. “Cerca de 50% não têm mais de 18 anos”, refere o porta-voz dos Médicos Sem Fronteiras, citado pelo “The Guardian”.

As violações acontecem, por norma, após os ataques às aldeias. Os militares separaram as mulheres e “escolhem as mais bonitas”, que são depois levadas. “Chorei quando levaram a minha irmã mais nova, mas não podia fazer nada. Quando pararam e se foram embora, fui à procura dela. Não sabia se estava viva ou morta, mas encontrei-a a respirar. Esta a sangrar tanto que a lavei no rio e a levei para um centro médico”, relatou uma mulher de 27 anos ao jornal britânico. Mais tarde, soube que a irmã tinha sido violada por dois soldados e um civil.

Os dados apresentados pelos Médicos Sem Fronteiras são apenas uma parte das vítimas de violência sexual, pois muitas não chegam a receber qualquer tipo de tratamento. “As mulheres e meninas não procuram com frequência cuidados médicos para a violência sexual por causa do estigma associado, por vergonha e por medo de serem culpadas do que lhes aconteceu”, diz Aerlyn Pfeil, dos Médicos Sem Fronteiras, que está integrada nas equipas do campo de refugiados de Kutupalong.

Segundo a Humans Right Watch, perto de 600 mil rohingya fugiram de Myanmar (antiga Birmânia) para o Bangladesh desde o final de agosto, quando o exercito birmanês começou “uma operação de limpeza” no seguimento de um ataque levado a cabo por um grupo rebelde rohingya.

Esta minoria muçulmana vive concentrada há vários anos em Rakhine, na costa ocidental de Myanmar. O país não reconhece a cidadania aos rohingya e impôs-lhes severas restrições, incluindo a privação de liberdade de movimentos. Desde agosto que nenhum jornalista ou membro de organizações internacionais humanitárias foi autorizado a aceder ao estado de Rakhine.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mpgoncalves@expresso.impresa.pt

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