Internacional

Míssil que sobrevoou o Japão foi “primeiro passo” para operações militares no Pacífico

O míssil balístico lançado por Pyongyang em agosto foi o primeiro a sobrevoar o Japão desde 2009
O míssil balístico lançado por Pyongyang em agosto foi o primeiro a sobrevoar o Japão desde 2009
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Num novo pico de tensões regionais, Kim Jong-un deu a entender esta quarta-feira que está a preparar mais testes de mísseis e repetiu ameaça de ataque à ilha norte-americana de Guam, descrita nos media estatais como “uma base avançada para a invasão” da Coreia do Norte pelos EUA

A Coreia do Norte anunciou esta quarta-feira que o míssil ontem lançado contra o Mar do Japão, o primeiro a sobrevoar o território nipónico desde 2009, foi "o primeiro passo" para operações militares no Pacífico. Foi assim que Kim Jong-un deu a entender que está a preparar mais testes de mísseis balísticos, com os media estatais norte-coreanos a repetirem a ameaça de ataque à ilha de Guam, território não-incorporado dos EUA naquele oceano que alberga tropas e armamento norte-americano e que é descrito pelos media do país como "uma base avançada para a invasão" da Coreia do Norte pelos EUA e os seus aliados.

A ameaça surgiu horas depois de os membros do Conselho de Segurança da ONU terem condenado o incidente de terça-feira, quando Pyongyang lançou um Hwasong-12, um míssil balístico de médio alcance com capacidade para transportar ogivas nucleares, contra as águas que banham o norte do Japão. A passagem do míssil sobre a ilha de Hokkaido, onde os EUA e o Japão estão a conduzir exercícios militares conjuntos há uma semana, levou as autoridades nipónicas a emitirem alertas à população para que procurassem abrigos seguros, com o governo de Shinzo Abe a denunciar uma "ameaça sem precedentes" à sua soberania.

Esta foi a primeira vez que um míssil norte-coreano sobrevoou o território japonês desde 2009; onze anos antes, um outro míssil já tinha sido avistado a sobrevoar o país. Os analistas notam, contudo, que esses dois incidentes envolveram lançamentos-teste de satélites e não mísseis balísticos como foi o caso esta semana. Por causa disso, houve união entre todos os membros com assento permanente no Conselho de Segurança na hora de condenar as ações "revoltantes" da Coreia do Norte; contudo, a Rússia e a China, única aliada de Pyongyang, referiram que as recentes atividades militares dos EUA e dos seus aliados às portas da península coreana também contribuíram para este evento, pedindo que as partes se sentem à mesa de negociações.

Em comunicado, o Conselho avisou que os programas militares da Coreia do Norte representam uma ameaça a todos os Estados-membros da ONU e exigiu ao país que suspenda todos os seus testes de mísseis, sem contudo prometer mais sanções contra Pyongyang à semelhança das várias que têm sido aprovadas nos últimos meses, a última ronda no início do mês. Esta quarta-feira, à chegada a Tóquio para uma visita oficial, a primeira-ministra britânica, Theresa May, pediu à China que aumente a pressão sobre a Coreia do Norte, sublinhando que Pequim deve desempenhar um papel preponderante na resposta da comunidade internacional à "provocação imprudente" de Kim Jong-un.

Também esta manhã, a agência estatal norte-coreana KCNA admitiu que o lançamento do míssil Hwasong-12 na terça teve uma trajetória "deliberada" para cruzar o território japonês, defendendo que o lançamento foi uma resposta direta aos exercícios militares EUA-Coreia do Sul e que serviu para marcar o 107.º aniversário do tratado Japão-Coreia, que viu as forças nipónicas anexarem a península coreana. Citando Kim Jong-un, a KCNA também avisou que, "tal como numa guerra real", o teste de terça-feira foi "o primeiro passo da operação militar do KPA [Exército Popular da Coreia] no Pacífico e um prelúdio significativo para conter Guam".

Nas entrelinhas ficou a ameaça velada de um ataque à ilha do Pacífico, um importante centro militar norte-americano na região que alberga cerca de 160 mil cidadãos norte-americanos — isto depois de, no início do mês, Kim Jong-un ter prometido lançar mísseis contra o território insular dos EUA após Donald Trump ter prometido "fogo e fúria como o mundo nunca viu" se Pyongyang continuar a testar a sua paciência.

Há alguns dias, o secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, tinha declarado que o facto de Kim não ter cumprido a ameaça de ataque a Guam dentro do prazo por ele estipulado — "em meados de agosto" — denota contenção da parte de Pyongyang e que pode ser um sinal de potenciais progressos. Contudo, face ao novo teste de míssil, Donald Trump declarou ontem em comunicado que o mundo "recebeu a última mensagem da Coreia do Norte alto e bom som", repetindo as ameaças de potenciais ataques militares ao país.

"Este regime acabou de sinalizar o seu desprezo pelos vizinhos, por todos os membros das Nações Unidas, e pelos padrões mínimos de comportamento internacional aceitável", declarou o Presidente norte-americano. "Ações ameaçadores e destabilizantes só aumentam o isolamento do regime norte-coreano na região e entre todas as nações do mundo. Todas as opções estão em cima da mesa" para reagir ao último teste, garantiu.

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