Cinco portugueses mortos em atentados desde junho de 2015
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Uma portuguesa de 74 anos foi morta no atentado nas Ramblas, em Barcelona. Estava de férias, como de férias estava Maria da Glória quando foi metralhada numa praia da Tunísia, em 2015. Manuel foi morto à porta do Estádio de France, António num restaurante em Ouagadougou, Precília num concerto em Paris. Em 26 meses o terrorismo matou cinco civis portugueses que tiveram o azar de estar no sítio errado à hora errada
Maria da Glória Moreira foi a primeira portuguesa morta pelo Daesh. É triste, épica e poética a história desta mulher, que aos 76 anos foi morta numa praia de Sousse, na Tunísia, a 27 de junho de 2015. Tinha sido professora, estava reformada e viúva há dois anos. Nos dias felizes em que viajou com o marido, a Tunísia foi um dos destinos escolhidos pelo casal. Gostavam da praia e eram bem tratados nos hotéis. Sentiam-se seguros.
Quando finalmente decidiu e conseguiu retomar o curso normal da vida, Maria da Glória viajou para o lugar onde fora tão feliz. Morreu ao quinto dia de férias, vítima de um brutal atentado do Daesh que metralhou dezenas de pessoas num resort turístico.
Vinte e seis meses depois, na mais movimentada rua de Barcelona, uma furgoneta assassina matou uma portuguesa de 74 anos, cujo nome ainda não foi revelado à hora de fecho desta edição do Expresso Diário.
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Sabemos que morava em Lisboa e que estava em Barcelona na companhia de uma neta de 20 anos que está na lista dos desaparecidos. Sabemos que tinha pelo menos um filho que é pai da jovem desaparecida, e tudo aponta para que estivesse de férias com a neta. O Ministério dos Negócios Estrangeiros não revela “a identidade da vítima” mortal, diz ao Expresso fonte do gabinete do Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro; é prática do MNE não divulgar a identificação das vítimas portuguesas, remetendo essa opção “para a família”, e as autoridades portuguesas só tiveram a confirmação do falecimento desta senhora nascida em 1943 –ao fim da manhã desta sexta-feira.
Manuel e Precília foram mortos em Paris
Quatro meses depois de Maria da Glória ter sido metralhada numa praia de Sousse em frente do hotel onde estava hospedada, Paris foi atingida por um onda de horror, numa tépida noite de novembro. Era sexta-feira, 13 de novembro de 2016, as esplanadas estavam cheias, a França jogava com a Alemanha no Estádio de France, e a banda Eagles of Death Metal dava um concerto no teatro Le Bataclan.
O alentejano Manuel Colaço Dias, 63 anos, emigrante em França há 45 anos, casado e pai de um rapaz com 28 anos e uma rapariga com 30, era motorista e levou três pessoas ao estádio para assistirem ao jogo particular de futebol entre França e Alemanha. Perdeu a vida numa das explosões que ocorreram junto ao recinto desportivo, um dos locais da onda de ataques conjugados que fez 130 mortos e cerca de 350 feridos.
O alentejano Manuel Dias foi morto à porta do Estádio de France
Precília Correia morreu nessa mesma noite, num momento que seria de lazer, no concerto da banda norte-americana Eagles of Death Metal . A sala do teatro Le Bataclan estava cheia nessa noite de sexta-feira. Precília tinha 35 anos. Era filha de pai português e mãe francesa, trabalhava numa loja da Fnac na capital francesa. A última fotografia que colocou na página do Facebook tinha a data de 23 de julho. As anteriores, captadas na costa do Meco (Setúbal) e em Lisboa, são de junho de 2015, quando Precília passou as férias do verão em Portugal.
Precília Correia foi morta quando assistia a um concerto em Paris, onde vivia, a 13 de novembro de 2015
Dois meses depois de Precília e Manuel terem sido mortos em Paris, António de Oliveira Basto, outro emigrante português em França, foi morto num atentado em Ouagadougou, onde estava a trabalhar ao serviço de uma empresa francesa. Deveria regressar a Paris dois dias depois, mas nessa sexta-feira, 15 de janeiro de 2016, teve o azar de estar a jantar com os seus colegas Arnaud Cazier e Eddie Touati no restaurante Le Capuccino, um local muito frequentado pelos estrangeiros que estavam na capital do Burkina Faso.
O português de 52 anos não gostava de comida condimentada. Foi esta preferência que fez Angélique, sua filha, temer o pior e sentir que o pai seria uma das 29 vítimas mortais do atentado terrorista contra o Hotel Splendid e o seu restaurante Le Cappuccino.