A Save the Children avisou esta quarta-feira que há mais de um milhão de crianças subnutridas com menos de cinco anos no Iémen vulneráveis ao contágio por cólera nas áreas mais atingidas pela epidemia. O aviso surge no mesmo dia em que a organização não-governamental começou a destacar mais especialistas da área da saúde para os distritos mais castigados pela cólera num país que, antes da devastadora guerra ainda em curso, já era o mais pobre do mundo árabe.
O reforço de médicos e enfermeiros acontece depois de os balanços mais recentes da ONU e de várias ONG no terreno apontarem que a epidemia já levou ao contágio de mais de 425 mil pessoas desde abril, vitimando quase 1900 iemenitas. De acordo com a Save the Children, as crianças com menos de 15 anos representam neste momento 44% dos novos casos de contágio e 32% das mortes no Iémen, numa altura em que a guerra continua a aumentar os elevados níveis de subnutrição no país.
"A tragédia é que tanto a má nutrição como a cólera são facilmente tratáveis se houver acesso a cuidados de saúde básicos", refere Tamer Kirolos, diretor da Save the Children para o Iémen. "Só que os hospitais e as clínicas foram destruídos [nos bombardeamentos da coligação saudita], os funcionários do setor da saúde não recebem salários do governo há quase um ano e a entrega de ajuda vital está a ser obstruída."
A cólera é uma infeção do intestino delgado causada pela ingestão de comida ou água contaminada com estirpes das bactérias Vibrio cholerae que pode causar a morte numa questão de horas quando não se tem acesso a tratamentos adequados. O surto de cólera no Iémen levou as Nações Unidas a avisarem na semana passada que cerca de 20,7 milhões de iemenitas estão a precisar de ajuda humanitária urgente, incluindo dez milhões de crianças, indicam dados da UNICEF — o balanço anterior apontava que, do total de 28 milhões de habitantes, 18,8 precisavam de ajuda de emergência.
A Oxfam também já veio avisar que, sem melhoria das condições no terreno, o número de pessoas infetadas pode ultrapassar as 600 mil, "o mais elevado alguma vez registado em qualquer país num único ano desde que começámos a recolher dados" — superando o caso do Haiti em 2011 no rescaldo de um poderoso sismo que, no ano anterior, destruiu grande parte das infraestruturas daquele país do Caribe.
Neste momento, a Save the Children está a operar 14 centros de tratamento de cólera no Iémen e mais de 90 unidades de hidratação espalhadas pelo país, números que serão reforçados a partir de hoje. De acordo com uma análise recente da organização, mais de um milhão de crianças subnutridas com menos de cinco anos — entre elas 200 mil crianças que sofrem de má-nutrição aguda — estão a viver nos distritos onde os surtos de cólera têm tido mais impacto.
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