Internacional

Egito em estado de emergência por três meses depois de ataques aos cristãos coptas

Egito em estado de emergência por três meses depois de ataques aos cristãos coptas
KHALED DESOUKI

Medida anunciada pelo Presidente egípcio só entrará em vigor com o aval do parlamento e vai permitir às autoridades fazerem buscas e detenções sem mandados judiciais

O Presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, vai implementar o estado de emergência em todo o país por um período mínimo de três meses na sequência dos ataques a duas igrejas coptas que, no domingo, fizeram pelo menos 44 mortos.

A medida, que tem de ser aprovada pelo Parlamento egípcio antes de entrar em vigor, vai permitir que as autoridades egípcias façam buscas a casas de pessoas e detenções de suspeitos sem mandados emitidos por tribunais.

O duplo atentado deste domingo contra uma igreja cristã copta em Tanta e outra em Alexandria já foi reivindicado pelo autoproclamado Estado Islâmico (Daesh), depois de avisos à minoria cristã ortodoxa maioritariamente concentrada no Egito e na sequência de anteriores ataques aos coptas pelo grupo radical.

"Os cruzados e seus aliados apóstatas devem lembrar-se que a conta entre nós e eles é grande e que eles vão pagá-la com rios de sangue das suas crianças, assim queira deus", disse o grupo num comunicado citado pela agência Reuters. "Esperem por nós que nós esperaremos por vocês."

Depois das explosões, Sisi discursou à nação a partir do palácio presidencial depois de um encontro de emergência com o seu conselho de segurança nacional, avisando que a guerra em curso contra os jiadistas vai ser "longa e dolorosa" e garantindo que o estado de emergência só vai entrar em vigor depois de todos os "passos legais e constitucionais" serem cumpridos.

A maioria parlamentar está do seu lado e deverá aprovar a manutenção do estado de emergência por pelo menos três meses, depois de o Presidente já ter ordenado o destacamento de batalhões do exército para várias partes do país para que protejam "infraestruturas importantes e vitais".

Os ataques deste domingo coincidiram com um dos dias mais sagrados do calendário cristão, o domingo de ramos, que marca a entrada triunfal de Jesus Cristo em Jerusalém e que prepara os crentes para a sexta-feira santa e o domingo de Páscoa, datas em que é celebrada a morte e ressurreição do messias.

Um deles teve como alvo a Igreja Copta de São Jorge, na cidade de Tanta, no norte do Egito, onde 27 pessoas perderam a vida segundo contas do Ministério da Saúde. Horas depois, a polícia conseguiu impedir que um outro bombista entrasse na Igreja Copta de São Marcos, em Alexandria, também no norte; o homem acabaria por detonar o seu colete de explosivos ainda cá fora, provocando 17 mortos, entre eles vários agentes da polícia.

O duplo atentado ocorreu a poucas semanas de uma antecipada visita do Papa Francisco ao Egito numa demonstração de apoio aos cristãos do país, que representam cerca de 10% da população e que dizem estar vulneráveis e marginalizados há vários anos.

O passo de Sisi deverá aumentar as preocupações entre organizações de direitos humanos, nacionais e internacionais, que nos últimos anos têm acusado o ex-general tornado Presidente de restringir os direitos e liberdades civis no Egito. Segundo a Human Rights Watch, dezenas de milhares de pessoas já foram detidas por dissidência, com as forças de segurança a cometerem "abusos flagrantes", incluindo tortura, desaparecimentos forçados e execuções extrajudiciais.

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