Kim Jong-nam, meio-irmão do atual líder da Coreia do Norte, terá sido assassinado com recurso a um agente nervoso altamente tóxico que está classificado pelas Nações Unidas como arma de destruição em massa.
A informação foi avançada esta sexta-feira pelo chefe da polícia da Malásia Khalid Abu Bakar, uma semana depois de duas mulheres terem abordado Kim Jong-nam por breves segundos dentro do aeroporto de Kuala Lumpur. Queixando-se de ter sido borrifado com um líquido, o homem começou a sofrer convulsões e morreu ainda a caminho do hospital. Exames toxicológicos preliminares à pele e a um olho da vítima indicam que terá sido atacado com o agente nervoso VX, uma substância listada nas Convenções de Armas Químicas de 1997 e de 2005, das quais a Coreia do Norte não é signatária.
Kim Jong-un é suspeito de ter ordenado o ataque, uma sugestão que o regime desmente categoricamente. As autoridades de Pyongyangs, que ainda não confirmaram a identidade da vítima, não estão satisfeitas com a insistência da Malásia em conduzir um exame post-mortem ao corpo e acusam o país de ter objetivos "sinistros" com a autópsia. A revelação de que Nam foi morto com recurso a uma arma química banida pelos tratados internacionais aumenta as dúvidas sobre como é que a Malásia e toda a comunidade internacional vão reagir.
O "New York Times" explica que o agente nervoso VX pode ser usado em dois compostos que são misturados no último instante para criar uma dose letal do veneno tóxico. A polícia malaia diz que as duas mulheres que abordaram o meio-irmão do líder norte-coreano tinham a mistura nas mãos e que as esfregaram na cara dele por breves segundos. Abu Bakar diz que uma dessas mulheres também sofreu vómitos a seguir à interação e que a presença do agente nervoso foi detetada numa análise preliminar aos tecidos do corpo de Kim pelo Departamento de Química da Malásia. Outras amostras recolhidas pelos especialistas ainda estão a ser analisadas e a polícia já está a investigar como é que a substância banida entrou no país.
"Se a quantidade do químico que foi trazida era pequena, será difícil para nós detetá-lo", disse Bakar, citado pela Reuters, numa conferência de imprensa. À BBC, Bruce Bennett, especialista em armamento do instituto de investigação Rand Corporation, diz que o agente asfixiante em causa é tão potente que bastaria uma ínfima quantidade para matar Kim. A exposição ao agente nervoso VX afeta direta e imediatamente o sistema nervoso, causando tremores seguidos de morte por asfixia em poucos minutos.
As norte-coreanas detidas por suspeita de envolvimento no ataque tinham dito inicialmente que não sabiam que estavam a envenenar a vítima e que se limitaram a aceitar um convite para participar num programa de televisão pregando partidas a estranhos. Há alguns dias, o chefe da polícia malaia tinha sublinhado que o facto de ambas terem corrido para a casa de banho para lavarem as mãos após interagirem com Kim Jong-nam demonstra que "tinham perfeita noção" do que estavam a fazer.
O filho mais velho do falecido líder norte-coreano Kim Jong-il foi, durante anos, tido como o mais provável sucessor do pai. Mas em 2001, o facto de ter tentado usar um passaporte falso para visitar o parque de diversões da Disney em Tóquio, no Japão, conduziu a desentendimentos entre ambos. Um ano antes de morrer, Kim Jong-il terá nomeado o filho mais novo para lhe suceder. Kim Jong-un assumiu o poder em 2011, na sequência da morte do pai. Jong-nam vivia exilado em Macau desde 2003.
Imagens do circuito de CCTV do aeroporto de Kuala Lumpur mostram que, a 13 de fevereiro, o meio-irmão do líder norte-coreano foi abordado por duas mulheres que lhe esfregaram algo na cara. O homem procurou ajuda médica no aeroporto, dizendo que alguém o tinha borrifado com um líquido. Em poucos minutos começou a sofrer de convulsões, morrendo a caminho do hospital.
A Malásia diz não ter dúvidas de que o ataque foi prepetrado por agentes norte-coreanos e já deteve quatro suspeitos, incluindo um cidadão da Coreia do Norte e as duas mulheres que interagiram com a vítima. As autoridades continuam à procura de outros sete norte-coreanos sob suspeita, incluindo um diplomata do mais secreto regime do mundo.
Jong-nam estava a viajar com um passaporte registado em nome de Kim Chol. Pyongyang continua sem confirmar que o falecido é o meio-irmão de Kim Jong-un. No que pareceu ser a primeira referência direta ao caso pelo regime, os media estatais da Coreia do Norte disseram esta quinta-feira que a Malásia foi responsável pela morte de um dos seus cidadãos e que está a tentar politizar o caso. A insistência em recolher amostras de ADN de membros da família de Kim Jong-un antes de devolver o corpo a Pyongyang é "absurda", acrescentaram.
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