Internacional

Turquia retira lei que permitiria absolver abusadores de crianças

O projeto de lei previa instituir, com efeitos retroativos, um perdão para os homens que tivessem relações sexuais com menores se casassem depois com as vítimas

Turquia retira lei que permitiria absolver abusadores de crianças

Alexandre Costa

Jornalista

O primeiro-ministro turco, Binali Yildirim, anunciou a retirada do polémico projeto de lei que deveria ser aprovado esta terça-feira e que permitiria perdoar os homens que tivessem relações sexuais com menores e que se casassem em seguida com as vítimas.

“Retirámos proposta a lei do parlamento e o documento volta para a comissão parlamentar de modo a permitir o amplo consenso requerido pelo Presidente, e a dar tempo aos partidos da oposição para desenvolverem as suas propostas”, disse Binali Yildirim, numa conferência de imprensa, em Istambul.

O recuo na proposta ocorre após a UNICEF ter feito na segunda-feira, conjuntamente com outras organizações das Nações Unidas presentes na Turquia, uma declaração contra a alteração legislativa, considerando que “quaisquer formas de violência sexual sobre crianças são crimes que devem ser punidos como tal”.

O AKP, partido no Governo, argumentou que a nova lei, que teria efeitos retroativos, não iria perdoar violadores ou abusadores sexuais, pretendendo apenas exonerar os homens que casaram com raparigas menores com o seu consentimento. O primeiro-ministro dissera que a intenção era resolver a situação de homens que se encontram nesta situação e que estão atualmente presos.

Mulher de Erdogan contra "legitimação" da violação

Os opositores consideram contudo que, num país patriarcal como a Turquia, as raparigas dificilmente têm oportunidade de dar o seu consentimento e que na prática a lei iria legitimar violações e encorajar casamentos com crianças,

A alteração legislativa contou com uma forte oposição no país, abrangendo mesmo meios conservadores normalmente afetos ao Governo. A mulher do Presidente também se manifestou contra e o chefe de Estado apelou para que não se avançasse sem a obtenção de um “consenso mais amplo” sobre a questão.

Uma petição contra o documento, lançada online esta semana, recolheu 800 mil assinaturas.

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