Internacional

Catástrofe humanitária anuncia-se em Idomeni

Quinze mil migrantes e refugiados ficaram presos entre a Grécia e a Macedónia desde que esta, ao fechar a sua fronteira, encerrou a Rota dos Balcãs. As condições são péssimas e o futuro destas pessoas é completamente incerto

Na semana em que a discussão sobre a crise migratória na Europa voltou à mesa das negociações em Bruxelas, a situação em Idomeni, o posto fronteiriço no norte da Grécia, agrava-se a cada momento.

Com a decisão unilateral de países da chamada Rota das Balcãs de fechar as fronteiras à emigração tida como ilegal, cerca de 15 mil migrantes e refugiados ficaram na incerteza quanto ao futuro. E vivem em condições deploráveis.

Esta situação levou o alto comissário da Organização das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad Al Hussein, a acusar as autoridades europeias de estarem a violar princípios fundamentais, como a solidariedade, a dignidade e os direitos humanos. Zeid Ra'ad Al Hussein repetiu a sua “profunda preocupação” pelas medidas restritivas aplicadas, tais como a instalação de cercas, a rejeição de processos individuais, e a recusa da entradas de pessoas em função da sua nacionalidade.

Segundo o alto comissário, a situação na Grécia é “dramática” e a solução anunciada pelas autoridades europeias não fará mais que pressionar um país que precisa de ajuda.

Um número crescendo de barcos lotados continua a fazer diariamente a travessia do Mar Egeu em direcção às costas gregas, nomeadamente às ilhas de Lesbos e Kos, a partir de onde a maioria decide pôr-se a caminho em direção a Idomeni.

Auxiliados maioritariamente por organizações não-governamentais, milhares de homens, mulheres e crianças em fuga a guerras e dificuldades sócio-económicas no Oriente Médio e Norte de África, estão rapidamente a tornar-se vítimas e parte de uma catástrofe humanitária no coração da União Europeia.

O campo, montado em terrenos agrícolas que circundam a linha de comboio que liga a Grécia à Macedónia, não é um lugar organizado. Não há instalações sanitárias suficientes. Não há água quente nem duches. A comida quente não é suficiente e é preciso por vezes esperar umas cinco horas por uma sanduíche ou um copo de sopa.

Faltam alimentos, assistência médica e esperança

Além das condições sanitárias insuficientes, há urgência em pessoal e equipamento médico, bem como medicamentos. Na tenda instalada pelos Médicos Sem Fronteiras (MSF), veem-se crianças de dois e três anos a receberem tratamento por via intravenosa devido à febre e às infeções provocadas pelo frio e más condições de higiene. Os responsáveis da MSF confessam-se sobrecarregados, uma vez que a equipa colocada em Idomeni tem capacidade para atender um máximo de mil pessoas.

Faltam também cobertores e tendas adequadas às temperaturas baixas que ainda se fazem sentir na região. Milhares de famílias dormem ao relento ao longo da vedação que separa os dois países.

As chuvas torrenciais dos últimos dias têm contribuído para uma rápida deteriorização das condições do campo, deixando famílias inteiras sem alternativa a viver na lama. Há voluntários a trabalhar sem parar, mas o número de pessoas a chegar a Idomeni não pára de aumentar. Entre elas contam-se muitos bebés e crianças e idosos debilitados em estado critico de assistência.

À falta de condições básicas para acomodar o número elevado de migrantes acresce a total falta de informação. A maioria desconhece a decisão da Macedónia de fechar permanentemente a entrada no país (encerrando a Rota dos Balcãs) e poucos são os que estão a par do controverso acordo que poderá ser aprovado na próxima semana entre a União Europeia e a Turquia.

Enquanto o jogo politico continua, a situação agrava-se para os milhares que pouco mais têm do que a esperança de poderem prosseguir a jornada. Procuram uma vida melhor na Alemanha e noutros países do norte da Europa.

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