No primeiro dia de 2016, entrou em vigor o tão esperado acordo de comércio livre entre a União Europeia (UE) e a Ucrânia – esperado, porque a sua implementação foi adiada cerca de um ano, na sequência da crise ucraniana e das crescentes preocupações e pressões russas em relação à escolha europeia da Ucrânia.
O Acordo Abrangente e Aprofundado de Comércio Livre (DCFTA – Deep and Comprehensive Free Trade Agreement) faz parte do Acordo de Associação entre a UE e a Ucrânia, assinado em junho de 2014, que se encontra na base do deteriorar das relações entre Moscovo e Kiev/UE. No entanto, e apesar das várias reuniões entre as duas partes ao longo do ano, não foi possível chegar a um acordo.
“O acordo vai contribuir para a modernização e diversificação da economia ucraniana e criará incentivos adicionais para a realização de reformas [necessárias, segundo a UE, neste tipo de acordos]”, declarou a Comissão Europeia em comunicado, esta sexta-feira. No entanto, como sublinhou a comissária do Comércio da UE Cecilia Malmstrom, “a mudança não irá ocorrer do dia para a noite, requer trabalho e investimento.”
Retaliação russa
Como resposta ao acordo de comércio livre, Moscovo decidiu adotar medidas de retaliação no mesmo dia em que o acordo entrou em vigor: a suspensão do seu acordo de comércio livre com Kiev e a decisão de alargar a Kiev o embargo aos produtos alimentares que a UE já enfrenta (como resposta às sanções económicas contra a Rússia, na sequência da anexação da Crimeia em 2014).
A retaliação tem um preço elevado para a Ucrânia, podendo custar ao país cerca de $600 milhões (€550 milhões), segundo afirmou o primeiro-ministro ArsenyYatsenyuk. Mas este é um preço que Kiev “está pronta para pagar”, segundo admitiu este mês o Presidente Petro Poroshenko. Ainda assim, acusa a Rússia de tentar “asfixiar economicamente” a Ucrânia.
“A decisão de Moscovo fechar o seu mercado aos produtos ucranianos, um ataque económico poderoso, é outra parte da guerra (…) contra nós”, explicou. Como resposta, Kiev anunciou também a suspensão, já no início de janeiro, do pacto comercial com a Rússia e a proibição da importação de produtos alimentares russos.
Recorde-se que o Acordo de Associação entre Bruxelas e Kiev está na base do deteriorar das relações entre a Ucrânia e UE, por um lado, e a Rússia, por outro. No final de 2013, e após vários incentivos da Rússia, o Presidente Viktor Ianukovych rejeitou o Acordo de Associação em prol da Rússia, originando protestos na praça central de Kiev (Euromaidan). Estes levariam à sua queda e, indiretamente, às ações dos rebeldes pró-russos no Leste da Ucrânia e anexação russa da Crimeia.
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