“Sempre disse que aos 45 gostava de parar de trabalhar.” Manuel Reis, engenheiro de ambiente, começou a trabalhar cedo. Do curso, na Universidade Católica, fez-se à vida: trabalhou numa fundição no norte do País, emigrou para Barcelona, depois para Hong Kong. O mar, as ondas, e o surf foram sempre a sua paixão. Há três anos parou em Bali, casou e teve uma filha. Pelo caminho investiu boa parte das suas poupanças. “O imobiliário era o sector que mais garantias me dava”, conta.
Manuel não será o exemplo do português mais tradicional e conservador, no que respeita aos investimentos, e à própria forma de viver. A verdade é que o sonho dele cumpriu-se: de regresso a Portugal, com vários imóveis em rendimento, comprou um terreno perto da Ericeira onde está a construir uma casa. “Será, provavelmente, a casa onde quero viver, mas também um espaço para receber pessoas ligadas ao surf”, afirma por videochamada, desde a Indonésia, onde ainda vive atualmente.
“Fazemos tudo online, pagamos contas, fazemos compras, porque não investir também? Com o advento das plataformas digitais passamos a ter acesso a infinitas formas de rentabilização”
Tiago Moreira, publicitário
O seu testemunho é uma prova de vida: é possível chegar longe, partindo do zero. Para isso é necessário trabalhar, planear, aforrar e investir. Hoje, as possibilidades são quase inumeráveis. Manuel investiu no imobiliário, comprou moeda estrangeira no tempo certo, fez os câmbios quando o cenário lhe era mais favorável. E este será, provavelmente, um dos segredos de quem chega novo a velho, com tempo, qualidade de vida e rendimento: a diversidade dos investimentos.
O economista e professor do ISEG, João Duque, é dos maiores defensores desta lógica. “É preciso ter um critério próprio. Se uma pessoa, por exemplo, considera importante estimular as empresas que se dedicam a energias renováveis, o meu conselho é que invistam nessas empresas, comprando ações em vez de ir ao banco. Temos de participar mais para ter mais rendimentos”, diz, salvaguardando, inevitavelmente, que a poupança é uma miragem quando os rendimentos são baixos. “Só se consegue poupar a partir de determinado nível de rendimento. Não tem de ser muito, e a poupança deve ser feita de forma sistemática, todos os meses. Mas quem vive com o salário mínimo dificilmente conseguirá poupar”.
Banca ou digital?
Com uma pandemia nas nossas vidas há dois anos, houve um fenómeno de crescimento exponencial dos meios digitais, não apenas no sentido do trabalho remoto, como dos próprios serviços e também investimentos. “A relevância da banca para as pessoas passou a ser pequena porque o crescimento do dinheiro é quase nulo num contexto de taxas de juro próximas de zero”, diz o publicitário Tiago Moreira, que decidiu investir em criptomoeda.
70%
- foi o crescimento de pesquisas no Google por Planeamento Financeiro e Gestão, registado nos últimos dois anos
“Fazemos tudo online, pagamos contas, fazemos compras, porque não investir também? Com o advento das plataformas digitais passamos a ter acesso a infinitas formas de rentabilização. Não deixa de ser um mercado especulativo e de alto risco, mas se olharmos para os gráficos de crescimento, desde o seu aparecimento, parece uma loucura. Tenho lá cinco mil euros. Entre ter o dinheiro parado e ir para um mercado destas características, acessível com €50, escolho a segunda opção. Começar com pouco e ir ganhando confiança”, diz, sublinhando, ainda assim, a confiança – ou falta dela.
“Não encaro aquilo como um investimento muito sério porque não tenho confiança total, é mais numa lógica de gambling. Claro que, como qualquer jogador, tenho a minha expetativa. Tanto posso ganhar muito um dia para o outro, como perder, mas o mercado tem crescido. A questão é até quando é que cresce”.
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