O que Portugal precisa para crescer

“A Europa tem mais quilómetros de ferrovia do que de estradas. Em Portugal é ao contrário e isso é um problema”

O quinto debate sobre o que Portugal precisa para crescer decorreu esta quarta-feira na SIC Notícias
O quinto debate sobre o que Portugal precisa para crescer decorreu esta quarta-feira na SIC Notícias
José Fernandes

Decorreu esta quarta-feira à noite, na SIC Notícias, o quinto de seis debates que o Expresso e a Fundação Francisco Manuel dos Santos estão a organizar sobre o que Portugal precisa para crescer

Ana Baptista

Pedro Brinca, professor associado da Nova School of Business (SBE); Carlos Oliveira Cruz, professor associado do Instituto Superior Técnico (IST); Mico Mineiro, diretor-geral da Twintex (uma empresa de têxteis do Fundão) e Joana Branco, diretora executiva da Biocant (Parque de Ciência e Tecnologia para Biotecnologia e Ciências da Vida). Foram eles os oradores do debate desta quarta-feira à noite, na SIC Notícias, onde se discutiram economias de aglomeração, regiões estrela, coesão territorial e infraestruturas. Estas foram as principais conclusões.

1. O que são regiões estrela?

  • Uma região estrela é aquela que tem características - como a concentração de capital e de talento, instituições de ensino, centros de investigação, empresas em crescimento e infra-estruturas eficazes - que são capazes de captar investimento que iria para outros locais, mas internacionais. Ou seja, “a ideia não é Lisboa, Cantanhede, Porto ou Leiria fazerem concorrência com Castelo Branco ou Évora mas sim com Madrid, Paris ou Frankfurt”, explica Carlos Oliveira Cruz.
  • Esta ideia de região estrela surge de um conceito chamado economias de aglomeração que “vivem de proximidade, não do ponto de visto físico, mas temporal”, acrescenta o professor do IST. Ou seja, tem de haver que instituições que reduzam o tempo de decisão e infraestruturas de transportes que aproximem as cidades e as regiões.
  • De acordo com Pedro Brinca, neste momento, se Portugal tivesse uma região de estrela a zona mais indicada seria faixa litoral que se estende de Sines a Viana do Castelo, porque é a faixa onde já se concentram a maioria das empresas, das infraestruturas, das escolas e faculdades e dos centros de investigação. Mas para o professor da Nova SBE, “há regiões estrela tão grandes como Portugal, pelo que talvez devêssemos pensar que uma região estrela pode ser o país todo”.

Carlos Oliveira Cruz, do IST e Joana Branco, da Biocant
José Fernandes

2. O que nos impede?

  • Portugal ainda não tem - nem é - uma região estrela. Tem sim regiões e/ou projetos que têm sido capazes de captar investimento, muito por causa do poder local, repara Joana Branco. A Biocant é um exemplo disso, mas depressa se tornou num projeto de escala nacional e internacional. “Das 40 empresas que temos no parque, 20% são estrangeiras”.
  • Outro exemplo é toda a zona do Fundão. Não só goza da proximidade a Espanha como “tem das empresas mais modernizadas empresas de têxteis; tem a marca Cereja do Fundão, é uma referência na programação e tem imobiliário a um custo muito mais acessível que a Área Metropolitana de Lisboa e a do Porto”, diz Mico Mineiro.
    Mas ambos ainda sentem na pele as assimetrias geográficas do país. E a culpa é do “portfólio de infraestruturas desequilibrado”, repara Carlos Oliveira Cruz.
  • De acordo com o professor do IST, desde a década de 1980 até 2008 ou 2009, Portugal fez uma aposta muito grande na rede rodoviária porque queria ligar o litoral e o interior, mas o resultado foi uma rede de auto-estradas que é o dobro da rede média de auto-estradas da União Europeia (UE) mas que não contribuiu para a coesão territorial como era o objetivo. Pelo contrário, “contribuiu para aumentar a desigualdade” e foi por causa das portagens.
Mico Mineiro, da Twintex e Pedro Brinca, da Nova SBE
José Fernandes
  • “80% dos troços congestionados na AML e AMP têm portagens e 70% dos troços de auto-estradas com menos de 10 mil veículos por dia estão no interior e têm portagem”, diz Carlos Oliveira Cruz. Um deles são os seis quilómetros entre o Fundão à Covilhã, conta Mico Mineiro.
  • Além disso, enquanto se investia em estradas, não se investiu na ferrovia. “Normalmente, os países na Europa têm mais quilómetros de ferrovia por milhão de habitantes do que de estradas. Em Portugal é ao contrário e isso é um problema”, acrescenta Carlos Oliveira Cruz.
    Outro entrave é a “instabilidade governativa e a incerteza regulamentar” e “as dinâmicas de investimento público” repara Pedro Brinca.

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