O que Portugal precisa para crescer

“Fazer a licenciatura, mestrado e doutoramento sem nunca ter tido uma experiência empresarial é das primeiras coisas a mudar”

O terceiro de seis debates sobre o que Portugal precisa para crescer
O terceiro de seis debates sobre o que Portugal precisa para crescer
José Fernandes

Decorreu esta terça-feira à noite, na SIC Notícias, mais um dos seis debates que o Expresso e a Fundação Francisco Manuel dos Santos estão a organizar sobre o que Portugal precisa para crescer

Ana Baptista e José Fernandes

A colaboração entre a academia e as empresas e indústrias é vista como essencial para a economia portuguesa começar a crescer, mas há muito a mudar e uma delas é o sistema de ensino dizem Cláudia Sarrico, professora de Economia e Gestão Universidade do Minho; Nuno Mangas, presidente do Compete 2020; Isabel Furtado CEO da TMG Automative; e Paulo Barradas Rebelo, CEO da Bluepharma. Foram eles os convidados do debate desta terça-feira à noite e estas são as principais conclusões.


1. Colaboração academia/indústria

  • É considerada como uma das chaves para fazer a economia portuguesa crescer e já existem bons exemplos em Portugal de como esta colaboração pode dar bons resultados. A TMG Automotive é um deles. A empresa de têxteis para automóveis já registou mais de 50 patentes no centro de investigação que têm na empresa e no trabalho que fazem com a universidade de Aveiro.
  • A Bluepaharma é outro exemplo. A farmacêutica cresceu em parceria com a universidade de Coimbra e neste momento já emprega 150 cientistas. Aliás, de acordo com o CEO da Bluepaharma, “a investigação está mais nas universidades do que nas empresas” e isso viu-se nas vacinas do Covid que nasceram em laboratórios mais pequenos que depois se associaram a grandes empresas.

Isabel Furtado, CEO da TMG e Paulo Barradas Rebelo, CEO da Bluepharma
José Fernandes

2. Os entraves

  • Há mais bons exemplos da colaboração entre a academia e empresas e indústria, mas ela ainda não é existe de forma generalizada. Em parte porque grande parte das empresas são pequenas e não têm gestores suficientemente qualificados para fazer inovação e investigação, diz Cláudia Sarrico, mas também porque empresas e universidades “falam linguagens diferentes”, acrescenta Isabel Furtado, referindo que a universidade quer ter tempo para ir ao fundo das questões enquanto as empresas têm mais urgência, porque têm de aproveitar o tempo do mercado.
  • Outro dos entraves está na dificuldade que ainda existe em Portugal em transformar o conhecimento num “bem transacionável”. Até porque, diz Paulo Barradas Rebelo, “temos muito boa ciência em Portugal, mas temos de a saber transformar em valor”. Para isso acontecer, diz Cláudia Sarrico, “temos de investir muito nas competências dos doutorados. Estamos a formar bom ritmo, mas aquilo que o tecido produtivo pede em termos de competências está a mudar” e, por isso, “o ensino também tem de mudar”. Até porque, acrescenta, “continuamos a olhar para a tese de mestrado como a norma, quando a lei já permite, há uma década talvez, que [o mestrado] possa ser um projeto ou um estágio”.

“Neste momento, podemos ter muitos doutorados com publicações fantásticas colocadas na gaveta e são só uma carta de boas intenções que não chegam ao mercado. De certa forma, estamos a desperdiçar talento que custou a criar e vale muito”, diz Isabel Furtado, CEO da TMG Automotive

Cláudia Sarrico, professora na Universidade do Minho e Nuno Mangas, CEO do COMPETE 2020
José Fernandes
  • De facto, concorda a CEO da TMG, “fazer a licenciatura, o mestrado e o doutoramento sem nunca ter tido uma experiência empresarial é mau. É das primeiras coisas a mudar. O ideal seria fazerem a licenciatura e o mestrado já com projeto. É uma excelente oportunidade para os alunos e para as empresas”, principalmente para a indústria. “Um doutorado que fez uma licenciatura, mais um mestrado e mais um doutoramento muito dificilmente se adapta a trabalhar na indústria ao fim de 12 ou 14 anos. O ritmo de trabalho é diferente, a exigência na hora é diferente”, explica.
  • Por exemplo, sugere Nuno Mangas, as teses, ou os projetos de mestrado, ou doutoramento, deviam “ser feitos nas empresas ou nas áreas de desenvolvimento das empresas e indústrias”. Ou seja, “serem mais orientados para a economia”, repara ainda Isabel Furtado. Desta forma, continua Nuno Mangas, não só se estimulava a colaboração entre academia e empresas e indústria, como reduzir-se-ia o desemprego dos jovens licenciados ou a crescente procura por talento que existe nas empresas, porque elas tenderiam a contratar os alunos dos estágios ou dos projetos.

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