Ana Milhazes trocou a carreira na tecnologia pelo ativismo a tempo inteiro
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É o rosto por detrás do movimento Lixo Zero Portugal e há mais de uma década que partilha dicas sobre como reduzir o desperdício. Esta é uma das 20 personalidades portuguesas selecionadas pelo Expresso para integrar a lista daqueles que lideram a transição para um mundo mais verde. Acompanhe esta descoberta até dezembro com o projeto Líderes da Transição, do Expresso com apoio da EDP
Transformar as palavras em ações foi o que fez Ana Milhazes quando, em 2012, decidiu criar o blog Ana, Go Slowly, onde procurou partilhar o seu caminho rumo a um objetivo ambicioso: conseguir zero desperdício na sua vida quotidiana. “Tudo começou há uns anos quando decidi que queria deixar de produzir lixo e reduzir ao milímetro tudo aquilo que fazia”, conta ao Expresso a ativista que hoje se desdobra em conferências, palestras e workshops para incentivar os outros a seguirem os seus passos.
O foco na meta era tão grande que começou “a colocar num frasquinho a quantidade de resíduos que ainda produzia” – tudo aquilo que não era possível “reduzir, reutilizar ou reciclar”. Mais tarde, em 2016, deu mais um passo no seu percurso de ativista e criou o movimento Lixo Zero Portugal “para que outras pessoas pudessem implementar estes pequeninos passos” e “sentirem como é fazer a diferença todos os dias”.
O que começou por ser um hobby, rapidamente se tornou num trabalho a tempo inteiro. Foi aí, em 2017, que Ana Milhazes trocou a carreira na área das tecnologias de informação por esta faceta de ‘influencer’ da sustentabilidade. “Acredito mesmo que a grande mudança está no que podemos fazer a cada dia”, reforça.
“Quero acreditar que em 2030 já não vamos estar a falar dos problemas de que falamos hoje. Acho que posso dizer que já não vou precisar de fazer o meu trabalho. Deixava-me mesmo muito feliz”
No seu blog, partilha ideias e dicas de como cortar o que considera ser o excesso de consumo. As sugestões vão desde a compra de produtos a granel à substituição de embalagens por soluções ecológicas, amigas do ambiente e da carteira. Nesta época natalícia, por exemplo, organiza workshops sobre como oferecer prendas conscientes e sem impacto no planeta.
IDEIA MICRO | REDUZIR, REDUZIR, REDUZIR
TIAGO MIRANDA
A sustentabilidade faz parte do dia a dia de Ana Milhazes, que acredita profundamente que a melhor forma de as pessoas contribuírem para a construção de um mundo melhor é “reduzir o consumo”. “É infalível”, garante, enquanto explica que “se reduzirmos aquilo que consumimos um bocadinho todos os dias, isso vai fazer a diferença”.
Porém, avisa a ativista, é preciso estar atento à forma como se alteram comportamentos. “Hoje fala-se muito na sustentabilidade, há imensas marcas e produtos sustentáveis, o que é ótimo, mas não se pode substituir e manter o nível de consumo. Esse foi o problema que nos trouxe até aqui”, sublinha. Aprender a viver com o essencial deve ser a prioridade, defende.
IDEIA MACRO | FISCALIZAR E PENALIZAR QUEM POLUI
DR
Se todas as pessoas contribuírem com pequenos gestos que melhorem a saúde do planeta, tudo será melhor. No entanto, realça Ana Milhazes, é preciso que do ponto de vista macro os Estados e as empresas também contribuam para este esforço comum. A fundadora do Lixo Zero Portugal sugere que as leis que penalizam os poluidores sejam efetivamente aplicadas na realidade.
“Por exemplo, implementou-se a multa em relação às beatas [de cigarros deitadas ao chão], mas depois não há fiscalização e de nada adianta. É muito importante haver coerência entre o que se define e o que se pratica”, afirma. É, por isso, essencial que se incentive quem pratica “boas ações” em prol do ambiente e que, em sentido contrário, se implementem “fortes penalizações” para quem continua a poluir.
São académicos, empresários e ativistas com vontade de mudar o mundo para melhor, um passo de cada vez. O projeto Líderes da Transição, do Expresso com apoio da EDP, selecionou 20 personalidades portuguesas com percurso assinalável na jornada da sustentabilidade e vai partilhá-lo com os leitores até dezembro. Ao longo de 10 semanas, o Expresso publica as suas histórias, percursos e ambições para incentivar a transição para um futuro mais verde.