Bairro Feliz

Celebrar a "alegria de existirmos" e recolher o lixo na costa melhoram a vida comunitária

Na 3ª edição do projeto do Pingo Doce, do qual o Expresso é media partner, vamos andar por todos os distritos do país a conhecer 50 ideias de 50 pessoas para mudar os seus bairros ou para melhorar a vida de todas as comunidades nas mais variadas áreas, porque da participação dos habitantes se faz um Bairro Feliz. Conheça cinco histórias a cada semana e consulte toda a informação sobre o Bairro Feliz no final do artigo
Celebrar a "alegria de existirmos" e recolher o lixo na costa melhoram a vida comunitária

Tiago Oliveira

Jornalista

Simão Acciaoli, Grândola (Distrito de Setúbal)

A selfie de Simão Acciaoli foi tirada com lixo recolhido enquanto falava com o Expresso

“A Brigada do Mar começou a ser pensada em 2008” conta Simão Acciaoli, o responsável pela associação ou, nas suas palavras, “o gajo que dá a cara”. Na base da formação da organização - que tem como fim principal a descontaminação da orla costeira através de ações e eventos que visam a proteção da biodiversidade, atividades relacionadas com a reciclagem e campanhas de sensibilização - esteve a realização, com um grupo de amigos, duma caminhada pela Costa Vicentina, onde foi possível ver que a “quantidade de lixo era gritante”. Dai surgiu a ideia de organizar uma campanha de limpeza, com a primeira a ter lugar em maio de 2009. Desde então que se têm multiplicado ações numa “área de atuação com 370 km de extensão” que dividem em troços a visitar “idealmente uma ou duas vezes por ano”. A recolha do lixo faz-se com apoio de voluntários e de uma equipa mais especializada, tendo já passado mais de 10 mil pessoas pelas campanhas de limpeza da organização, que colabora também com instituições culturais, como foi o caso da exposição Over Flow, no MAAT, em Lisboa. “Recolhemos duas toneladas por dia, em média”, revela Simão, com a certeza que o resultado do trabalho já se sente, pois se antes para recolher essa quantidade “bastavam 2 km de percurso, agora são precisos 10 km”. “O principal para nós é a questão da consciência”, explica: “vivemos em sociedade, mas há um problema em tratar do que é nosso”. A próxima campanha arranca já este mês, em Porto Covo. Segue-se o “resto do país”.

Paulo Ribeiro, Beja

Os "Rouxinóis do Alentejo" são parte integrante do autorretrato fotográfico de Paulo Ribeiro

Valorizar a cultura e preservar as tradições de um modo de vida muito próprio é o propósito do Grupo Coral e Etnográfico Infantil "Os Rouxinóis do Alentejo" que apesar de ter sido fundado há “cerca de 20 anos”, ganhou uma nova vida no último “ano e meio”. Uma espécie de refundação ou “renascimento”, como lhe chama um dos impulsionadores desta mudança, o diretor artístico, Paulo Ribeiro. No grupo acolhem aproximadamente 25 crianças entre os 6 e os 12 anos para dar voz ao Cante Alentejano num projeto que classifica como “muito comunitário e com grande participação”. Na escolha do repertório musical e na encenação das atuações há sempre cuidado com a “recriação dos antigos ofícios que estão plasmados nos trajes etnográficos” que representam profissões como “a ceifeira” ou “o pastor”, até porque “há toda uma história e toda uma cultura que depois é transmitida para que “as crianças tenham mais noção da história” da sua região. Proximamente será lançado um álbum ("sem recurso a instrumentos") com um concerto de apresentação no Teatro Pax Júlia no dia que marca o 9º aniversário da elevação do cante alentejano a Património Imaterial da Humanidade.

Ana Benedita Ramos Caro, Moura (Distrito de Beja)

A Moura Salúquia – Associação de Mulheres do Concelho de Moura, presidida por Ana Benedita Ramos Caro, existe desde 2000

“O nosso principal objetivo tem sido trabalhar para eliminação de todas as formas de discriminação baseadas no género e situação económica e social”, sustenta a presidente da direção da Moura Salúquia – Associação de Mulheres do Concelho de Moura, Ana Benedita Ramos Caro. Lançada “por um grupo de mulheres que teve a alma e a garra de vencer tabus, preconceitos e limitações” numa altura difícil e “porque sabiam que havia muito a fazer”, já são “23 anos de identidade afirmada”, com Ana a reforçar o propósito na génese da associação: “Criar e recriar, soltando todos os dias a alegria de existirmos”. Desenvolvem constantemente “projetos que promovem colóquios, fóruns e workshops com os mais variados temas na área da violência doméstica e de género, maternidade e paternidade, planeamento familiar e cidadania em várias vertentes”. Entre várias ações de sensibilização, que vão desde a publicação de livros “sobre a temática feminina” a exposições, são também responsáveis por gerir “uma Casa de Abrigo e o Núcleo de Atendimento a Vítimas de Violência Doméstica de Beja”.

Márcio Rodrigues, Loulé (Distrito de Faro)

Márcio Rodrigues quer dar a conhecer as potencialidades e tradições do interior algarvio
BrunoMartins

A Associação dos Amigos da Cortelha funciona “como polo dinamizador do interior do concelho de Loulé”, acredita Márcio Rodrigues, dirigente da organização que surgiu em 1975 na aldeia da Cortelha em plena Serra do Caldeirão, “um aglomerado de habitações dividido ao meio pela histórica Estrada Nacional 2”. A povoação é habitada “por cerca de 80 pessoas, na sua maioria de idade avançada” e é para desenvolver um espírito comunitário junto da população e combater o isolamento que realizam “inúmeras iniciativas” que vão desde “provas de motocross, passeios pedestres, manjares serranos, a Feira da Aguardente e Mel, o presépio em cortiça, o madeiro de natal à atividade do Grupo Etnográfico da Serra do Caldeirão”. Tudo “em prol da defesa das tradições, usos e costumes da nossa terra”, resume.

Mafalda Ramos, Portimão (Distrito de Faro)

Mafalda Ramos na sede da ACRA

Na comunidade do Alvor respira-se “uma vida dedicada à pesca e à indústria conserveira, mas que também enfrenta desafios grandes sociais e económicos”. E é aí que a ACRA - Associação Cultural e Recreativa Alvorense se assume desde 1993 como “o farol de esperança que se dedica a equilibrar essas disparidades, fornecendo suporte técnico e recursos direcionados para melhorar a qualidade de vida de todos os habitantes”, ilustra a diretora técnica, Mafalda Ramos. Ao “desenvolvimento de um grupo de teatro” e a realização de uma semana cultural (a concretizar-se no final de novembro de 2023), onde as pessoas "poderão desfrutar de degustações, exposições fotográficas e eventos culturais exclusivos", a ACRA celebra igualmente “a herança local com atuações do grupo coral e atividades etnográficas, como a empreita de palma e o ensino de nós de marinheiro”. Mas é a componente social que Mafalda afirma ser a “missão primordial” com respostas como “o refeitório social e banco alimentar, em que são disponibilizadas refeições quentes gratuitas e alimentos para famílias em situação de carência, bem como um banco de roupa, balneário social e gabinete de apoio à comunidade e os serviços essenciais de apoio comunitário”. Em 2022 foi também possível acrescentar à lista “consultas médicas, tratamentos dentários e aquisição de géneros alimentares” e apesar de “vivermos momentos conturbados de grande provação”, uma esperança sobressai: “Juntos, podemos fazer a diferença”.

O que é o Bairro Feliz

O projeto

O Bairro Feliz é um projeto do Pingo Doce projeto do Pingo Doce, do qual o Expresso é media partner, e que tem como objetivo melhorar a qualidade de vida nos bairros. Para isso é lançado um desafio onde entidades locais públicas ou privadas (associações, IPSS, fundações, cooperativas) ou grupos de vizinhos até cinco pessoas inscrevem projetos “que promovam um impacto positivo” nos seus bairros.

As ideias

Enquadram-se em seis áreas: ambiente; apoio animal; apoio social e cidadania; cultura, património, turismo e lazer; educação; e saúde, bem-estar e desporto. Estas são analisadas por um painel de jurados que faz uma primeira seleção e depois levadas a votação popular nas lojas.

O prémio

Cada vencedor ganha até €1000 para desenvolver o seu projeto.

Os prazos

As candidaturas serão avaliadas de 5 de julho a 9 de outubro e votadas nas lojas de 10 de outubro a 25 de novembro, dia em que serão também anunciados os vencedores.

Saiba mais

AQUI. E acompanhe no Expresso e na SIC.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: toliveira@impresa.pt

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